domingo, 10 de agosto de 2014

ESTADO TEM QUATRO VEZES MAIS PAIS INTERESSADOS EM ADOTAR DO QUE CRIANÇAS NA FILA DE ADOÇÃO


10/08/2014
Fábio Cortez / NJ
Claúdio Oliveira
Do Novo Jornal
Na Casa Menino Jesus, no Alecrim, 13 crianças passarão o Dia dos Pais sonhando encontrar uma nova família

“Querido pai, neste dia especial, gostaria de poder ter você aqui perto. Poder te dar o meu carinhoso abraço e até um presentinho. Mas você ainda não apareceu para receber esse abraço, então, continuo aqui, te esperando”. O texto acima retrata o sentimento de pelo menos 47 crianças e adolescentes que, neste dia dos pais, não terão a quem dedicar a data porque estavam em risco, foram destituídas do convívio familiar e ainda permanecem na lista de espera para adoção.
Natal é a cidade do estado que mais acolhe crianças nesta situação. São 28 na lista de adoção, além de dezenas que ainda não entraram no cadastro porque a justiça ainda tenta inseri-las no convívio familiar. Muitas destas, sequer têm noção do simbolismo que a data representa. Para elas trata-se somente de um domingo a mais na solidão da espera por um pai, um lar, uma família. Na Casa Menino Jesus, no Alecrim, 13 crianças e adolescentes estão abrigados à espera de que a situação se resolva.
Entre eles, uma verdadeira família formada por cinco irmãos, sem pai nem mãe por perto. A estadia que já dura mais de três anos na entidade, mantida pelo Governo do Estado, é fruto de uma trágica e violenta história familiar. A mais velha do grupo, Kátia (nome fictício), vai comemorar seus 15 anos amanhã, mas para hoje, não expressa nenhuma intenção em festejar o dia alusivo aos pais. “É um dia normal, não tem nada demais”, diz.
A menina tímida, de poucas palavras e reservada, ainda sorri com mesma facilidade que fecha o sorriso ao lembrar-se da mãe e do pai, que perdeu quando ainda era muito pequena. “Meu pai morreu quando eu era criancinha. Minha mãe se juntou de novo, mas fez uma besteira com o outro, aí arranjou outro que bate muito nela e batia na gente, até ameaçava de matar”, conta.
Deste último, a mãe não teve filhos, mas os oito que trouxe ao mundo estão divididos entre os dois primeiros maridos. Entre os irmãos, uma menina engravidou aos 11 anos e hoje, aos 17 anos, tem mais um filho e mora com o marido. Os outros sete foram para o Lar Menino Jesus, depois de ser constatado o risco de continuar morando com a mãe e o dito esposo, ambos viciados em álcool – e, segundo suspeitas - também em drogas.
A “besteira” que Kátia falou, teria sido o fato da mãe ter assassinado o companheiro que também a maltratava. Dois irmãos, um de 11 anos e outra de 16, estão na guarda de dois tios. Restaram os cinco. Todos são muito reservados e muitas vezes apresentam comportamento hostil e violento entre si. Contudo, entre uma briga e outra (comum entre irmãos) se cuidam e se protegem, tentando substituir a ausência de seus tutores.
Esta ausência ainda é indecifrável para eles. O maior desejo para a data de hoje poderia ser ter um pai, uma família, mas faltam-lhes essas referências. Ao responder onde gostaria de estar hoje com seus irmãos, Kátia demonstra dúvidas. “Não sei. Tenho tios, mas eles não querem a gente e não dá para voltar pra minha mãe, ela também não quer a gente e a gente sofria muito e era ameaçado”.
João (nome fictício) é o irmão mais velho depois de Kátia. Aos doze anos, o menino evita falar sobre os dramas que viveu. Quando questionado sobre a ausência de um pai, o garoto tenta sorrir, mas não consegue impor o riso por muito tempo, então se mantém cabisbaixo.

ABANDONO
Além dos cinco irmãos, os outros moradores do Lar Menino Jesus também passarão este dia sem um pai para abraçar e chamar de seu, embora não estejam em idade para entender a simbologia da data, já que são menores de três anos. Entre eles, um casal de irmãos que foram destituídos da guarda da mãe por esta oferecer riscos a segurança deles, em virtude de problemas psicológicos.
O menino, que tem três anos, apresenta comportamento agitado e, muitas vezes, violento, provavelmente espelhado na triste vivência com a mãe. A irmã, de dois anos é mais tranquila. Pela casa também engatinha o caçula da instituição com pouco mais de um ano. Os três casos, devem receber ainda neste mês a definição se entram para a lista de adoção ou se familiares ficarão com suas guardas. Diante da ausência de um pai e uma mãe, as crianças se apegam facilmente e demonstram carinho, em pouco tempo, a quem visita aquele lar.
http://www.novojornal.jor.br/noticias/cidades/1513

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