quarta-feira, 6 de agosto de 2014

MOROSIDADE NA ADOÇÃO FAZ CRIANÇAS PERDEREM O FUTURO

03/08/2014
Regina Botelho
Da Redação

Adoção de animais. E as crianças?
Cada dia mais comum nos noticiários da grande mídia, fatos que mostram crianças recém nascidas, abandonadas pela mãe. Há mães que fogem da maternidade deixando lá o próprio filho abandonado, que será encaminhado para uma instituição e talvez consiga adoção.
Adoção difícil, nos casos de crianças negras ou portadoras de deficiências.
Para falar apenas de casos recentes, vimos mãe que descartou o filho, dentro de uma sacola de supermercado, atirando-o em um terreno, por cima do muro.
Outro foi jogado no lixo, em um container, numa esquina qualquer.
Crianças em sacos plásticos foram atiradas em lagoas e sobreviveram. Crianças institucionalizadas são cada vez mais comuns.
Com o grande número de crianças nas instituições de Cuiabá, a reportagem do Jornal Centro-Oeste Popular buscou explicações para verificar quais são os maiores entraves na questão.
Na concepção da psicóloga que atua no Juizado da Infância e Juventude em Cuiabá, Rita de Cássia França, os apelos nas redes sociais para adoção de cães e gatos são uma vitrine de cultura e extensão da sociedade. Apaixonada por animais, entende que a sociedade é cartesiana e o assunto não requer comparações, pois são questões que não podem ser confrontadas. “As rede sociais podem ser usadas tanto para um benefício quanto para um malefício, dependendo do uso que se faz dela”, opina.
Ela enaltece que adotar um filho (a) é para o resto da vida e envolve uma série de questões. “Há vários casais que decidem por não terem filhos biológicos como adotivos e optam pelos animais.
A adoção de uma criança é diferente. O cuidado que a criança necessita é maior. Talvez esses apelos nas redes sociais em prol dos animais aumentaram devido às facilidades”, pontua.
A jornalista Luana Soutos, 29, adotou três gatos. Conta que adotou a gatinha Grisália há quase dois anos quando ela apareceu em sua casa e a Dunga e Malu vieram de um abrigo, ainda filhotes. “Amo animais. Sempre tive. Perdi uma cachorrinha de 13 anos em 2012. Não estava mais com intenção de adotar, mas eu não resisto. Sempre acontece de aparecer algum e eu pego. Já peguei vários na rua e levei pra casa até encontrar alguém que possa adotá-los. Agora não posso mais fazer isso, infelizmente, porque divido apartamento com outra pessoa. Tenho que respeitar as regras”.
Ao ser questionada sobre o porquê de não adotar uma criança, Luana diz que não tem como comparar as situações. “O amor e a responsabilidade são totalmente diferentes”.

ESPERANÇA
“Somos pais adotivos abençoados por opção.
Isso me fez e me faz muito feliz e realizada. Quando adotamos o Francisco ficamos encantados com a experiência maravilhosa de sermos pais.
Após um ano e meio tive outra notícia maravilhosa de que seu irmãozinho biológico estava no Lar da Criança. Depois de três meses fomos buscar nosso segundo filho, o Samuel”, diz emocionada Daniela.
Em um relato marcado pela emoção, Danny como é carinhosamente conhecida, afirmou que desistiu de ser mãe biológica para ser adotiva, e hoje tem uma família abençoada. “Sou muito grata a Deus pelo privilégio de ser mãe de duas crianças maravilhosas que são meus filhos.
Pra mim não existe diferença entre o vínculo materno biológico do vínculo materno adotivo. Se não nasceu de mim, certamente nasceu para mim” enaltece Danny.

NÚMEROS
Dados do Sistema de Inspeção e Acompanhamento de Produção (Siap) da Corregedoria-Geral da Justiça de Mato Grosso mostram que existem 867 crianças e adolescentes nas 72 instituições de acolhimento espalhadas nas 61 comarcas do Estado.
Deste número, apenas 61 estão aptas para adoção.
Do início do ano até o momento 89 processos de adoção foram sentenciados.
A secretária-geral da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), Elaine Zorgetti Pereira, explica que as dificuldades para adoção das crianças esbarra no perfil dos pretendentes que na sua maioria almejam crianças de até três anos de idade. “A média de espera para crianças até essa faixa etária é de três anos. Em caso de crianças maiores essa espera diminui sensivelmente”.

ANIMAIS
A presidente da Organização de Proteção Animal de Mato Grosso (OPA-MT), Michelle Scopel, informa que a instituição conta com cerca de 150 animais, destes 70% estão aptos para serem adotados.
Sobre os critérios necessários para adotar um animal, Scopel revela que a pessoa que irá adotar tem que ter ao menos alguma noção de como cuidar de um animal e quais vacinas ele deve tomar.
“Os critérios para escolha são feitos através de visita na casa do interessado. Analisamos também as questões de segurança dos portões e se todos da casa concordam em adotar o animalzinho”, ressalta.
Já a Associação Voz Animal (AVA) acolhe 127 cães e 128 gatos e de janeiro até o momento 40 animais já foram contemplados com um novo lar.
A associação é uma entidade sem fins lucrativos e resgata animais das vias públicas da cidade que foram vítimas de maus tratos, abandono ou atropelamento. Débora de Cesaro, vice-presidente da Voz Animal, lembra que a grande dificuldade em diminuir a lista de espera é o preconceito de muitos casais que escolhem aceitar crianças ainda bebês e bonitas. “Em 2015 pretendo adotar uma criança portadora de necessidades especiais. A classificação nas instituições nunca diminui pela própria exigência dos pretendentes.
Nas instituições e abrigos existem várias curumins maiores e que não interessam os casais. Esse preconceito também perpetua na AVA, pois ninguém quer levar para casa um animal deficiente”. Sem uma estatística exata, estima-se que mais de cinco mil cães vivem nas ruas da cidade expostos a maus-tratos, fome e doenças.
Além dos animais que fogem das residências, o abandono também cresce em decorrência de mudanças para apartamentos e condomínios fechados, que proíbe a presença de animais.

ENTRAVES
A superintendente do Lar da Criança, a psicóloga e Assistente Social Marimar Michels, diz que na casa existem 82 crianças na faixa etária de 0 a 12 anos.
Ela comenta que o casal que tem interesse na adoção deve procurar o Fórum com os documentos pessoais e comprovante de residência e receberá todas as informações necessárias para entrar com o processo de adoção.
“Após análise e aprovação da documentação, entrevistas serão realizadas com a equipe técnica da Vara da Infância e da Juventude, composta por profissionais da área da psicologia e do serviço social”, informou a superintende. Lindacir Rocha Bernardon, presidente da Associação dos Grupos de Apoio à Adoção e Associação Mato-grossense de pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara), pretende reunir órgãos e profissionais para debater e fortalecer as ações em prol da adoção.
Um dos principais desafios, conforme Lindacir, ainda é conseguir inserir em novas famílias crianças com mais de quatro anos. “A inserção destas crianças em famílias substitutas ainda é um desafio”, pondera.

O TRÂMITE
O processo de habilitação dos pretendentes pode demorar até seis meses. Já o de adoção depende do perfil desejado. Quando o candidato a adotante prefere um recém-nascido, o tempo de espera pode chegar a três anos, enquanto nos casos onde não há essa exigência, a espera pode ser bem menor - de seis meses.
Depois da análise e aprovação da documentação, psicólogos e assistentes sociais fazem entrevistas e visitas na casa do requerente. A parte final de todo o processo é o curso preparatório para adoção. Finalizado o curso e com a aprovação em todos os quesitos, a pessoa está habilitada para adotar.
Estando em ordem a documentação, em média, o cumprimento dos atos processuais já enumerados leva 15 dias, entre o ajuizamento e a decisão.

QUEM PODE ADOTAR
Homem ou mulher maior de idade, qualquer que seja o estado civil e desde que 16 anos mais velho do que o adotando; os cônjuges ou concubinos, em conjunto, desde que um deles seja maior de idade e comprovada a estabilidade familiar; os divorciados ou separados judicialmente, em conjunto, desde que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal; tutor ou curador, desde que encerrada e quitada a administração dos bens do pupilo ou curatelado; requerente da adoção falecido no curso do processo, antes de prolatada a sentença e desde que tenha manifestado sua vontade em vida; família estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil; todas as pessoas que tiverem sua habilitação deferida, e inscritas no Cadastro de Adoção.
Dificuldade para adoção de crianças esbarra no perfil dos pretendentes que almejam crianças de até três anos de idade
http://www.copopular.com.br/geral/id-117370/morosidade_na_adocao_faz_criancas_perderem_o_futuro

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