quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PAIS E FILHOS POR ADOÇÃO: UM AMOR CONQUISTADO


Voz do Paran/2002
Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
Psicóloga, Professora da UFPR (graduação e pós-graduação) e Coordenadora do Projeto Criança, Mestre e Doutora em Psicologia pela USP; membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB-PR
Em quase todos os tempos, culturas e civilizações sempre existiram e sempre existirão mães que, por inúmeras razões, abandonam ou entregam os seus filhos e, pessoas que, por não conseguirem ter filhos biológicos ou por razões humanitárias, criam, educam, amam e reconhecem como filhos crianças nascidas de outras mulheres. A humanidade sempre criou diversos arranjos sociais para o estabelecimento de outros tipos de dinâmicas familiares que não aquelas embasadas por laços de sangue. Atualmente a adoção é compreendida como a melhor maneira para proteger e integrar uma criança em uma família substituta.
Faço pesquisas sobre "abandono e adoção" de crianças no Brasil há mais de dez anos e continuo surpreendendo-me com o fato de que, apesar da adoção existir desde os primórdios dos tempos, ainda hoje repete-se o estereótipo que "filhos adotivos dão problemas, cedo ou tarde" ou "uma mãe nunca vai gostar do seu filho adotivo como gostaria de um filho da barriga. Isso tende a ser reforçado pelo sensacionalismo de casos dramáticos através da mídia e até pela inadvertida generalização de casos clínicos por parte de muitos psicólogos e psiquiatras, que publicam artigos e falam em congressos que "a perda dos pais biológicos é irreparável" e, consequentemente, determinante de todos os problemas.
A "cultura dos laços de sangue" é tão presente que faz com que as pessoas acreditem que estes laços são os únicos "fortes" e "duráveis" por serem "naturais" e "verdadeiros". Quando se fala comparativamente de famílias adotivas e não adotivas, geralmente são utilizadas as expressões: família adotiva versus família natural; ou filho adotivo versus filho verdadeiro, denunciando o preconceito por trás das palavras. Isso quer dizer que a filho adotivo não é nem "natural" nem "verdadeiro"? As pessoas perceberiam o ridículo se dissessem que o filho adotivo é artificial e falso... Em disputas judiciais sobre a guarda de crianças, as mães biológicas sempre têm preferência, mesmo quando abandonam seu filho e ficam longos anos sem dar a menor notícia, como acontece freqüentemente. Mesmo quando deixam seu filho em instituições e internatos durante anos a fio sem sequer fazer-lhe uma visita, o Ministério Público e o Poder Judiciário entendem que são essas famílias as detentoras do "pátrio poder", ou seja, a tutela legal dessa criança.
Geralmente os técnicos desta área (psicólogos, assistentes sociais, juizes) ressaltam que as pessoas que desejam adotar precisam de muita preparação, que devem desejar muito um filho, não terem motivações "inadequadas", tais como escolher o sexo do filho, ou não elaborar primeiramente o "luto" de sua própria esterilidade etc., senão "a adoção não vai dar certo". Até um certo ponto esses fatores podem contribuir para uma relação saudável. No entanto, ninguém fala da preparação que pais biológicos também deveriam ter. Quantas pessoas têm filhos "por acaso", ou "para salvar um casamento", ou fazem inseminação in vitro "para poderem escolher o sexo da criança"? Essas motivações seriam "adequadas" simplesmente por virem de pais biológicos?
Ao longo desses anos tenho encontrado a maioria absoluta das famílias adotivas tão "normais" quando às biológicas, e algumas até muito mais especiais. Gostaria de afirmar a diferença entre uma família adotiva e uma biológica é simplesmente a contingência pela qual foram formadas, mas a sua a essência e sua importância são exatamente as mesmas. Os pais e filhos por adoção não são cidadãos de segunda categoria e devem assumir-se por inteiro, sem culpa e nem vergonha. Afinal, os "laços de sangue" e o tão falado "instinto materno" nem sempre garantem uma boa relação. Afinal, quantas crianças são abandonadas, ou jogadas em terrenos ou latas de lixo pela suas mães biológicas? E quantos pais maltratam e espancam crianças "de seu próprio sangue"? Todos nós sabemos que o amor não está condicionado a laços genéticos; mesmo o amor de pais e filhos, sejam eles biológicos ou adotivos, é sempre construído sendo que esta conquista pode ser a longo prazo ou pode ser um "amor à primeira vista". Alguns depoimentos mostram essa conquista:
• Nosso amor foi um amor conquistado e o meu filho nos adotou também (Paulo, pai por adoção).
• Tenho muito orgulho de dizer que as minhas filhas são filhas do coração";
• "me sinto feliz, orgulhosa e enriquecida pelo fato de ter filhos adotados";
• "tenho orgulho em dizer que tenho um filho adotivo e voto que as pessoas peguem carona no meu orgulho: meu filho também já tem orgulho em dizer que é adotivo";
• "tenho prazer em dizer que minha filha é adotiva; foi um presente de Deus";
• "sinto orgulho de ser mãe, independente do meu filho ser adotivo; ser mãe é bom demais";
• Tenho muitas satisfações, realizações e gratificações em minha vida mas nenhuma se compara a satisfação e alegria que meu filho me proporciona (Beth, mãe por adoção).
• Eu os amo muito, muito mesmo, meu pais e meus dois irmãos; eles sempre me trataram como a princesa da casa. São ótimos, e eu não vivo sem eles (Roberta, 13 anos, filha por adoção).
• Sinto amor por meus pais. Fui gerada no coração deles! (Maria, 15 anos, filha por adoção).
• Tirando a parte genética completamente, não conseguiria me imaginar com outros pais nem mesmo os biológicos (Bruno, 16 anos, filho por adoção).
Recentemente defendi minha Tese de Doutorado sobre adoção no Brasil (pela Universidade de São Paulo) e está publicada em livro – PAIS E FILHOS POR ADOÇÃO NO BRASIL, Editora Juruá (2001). O tema é ainda pouco explorado de maneira empírica em nosso país e esta pesquisa desmistifica algumas questões arraigadas pelo imaginário da população.
A pesquisa para a tese foi realizada com 400 pais adotivos, filhos adotivos e filhos biológicos que têm irmãos adotivos, moradores de 17 Estados e 105 cidades diferentes do Brasil. A análise dos resultados mostrou as características da população de famílias adotivas no Brasil, abrangendo suas motivações e sentimentos acerca do processo de adoção e verificou a existência de algumas relações entre as diferentes variáveis descritas de uma forma geral. O quadro seguinte mostra alguns mitos e asa verdades encontradas na pesquisa empírica:
MITOS
Filhos adotivos sempre têm problemas
Pais adotivos preferem não revelar a adoção para o filho
Filhos adotivos sempre pensam na família de origem e querem conhecê-la
Escolher a criança a ser adotada facilita o vínculo afetivo
A motivação para a adoção é sempre a infertilidade
A motivação para adoção é fundamental para o sucesso da adoção e adoções "por caridade" não" dão certo
Somente pessoas ricas podem adotar
Pessoas mais esclarecidas são menos existem e têm menor preconceito
Os adotantes preferem bebês recém-nascidos
Adotar deve ser natural e não é preciso preparação especial
Atualmente as adoções são através do sistema legal
Atualmente ninguém mais discrimina os adotivos
Filhos adotivos de cor de pele diferente têm mais problemas em relação à discriminação
Pais que têm filhos biológicos e adotivos têm sentimento maior pelos biológicos
É melhor a criança adotada não saber de sua adoção
É melhor não falar muito do assunto com o filho adotivos para não potencializar a importância da origem
Adotantes que adotaram legalmente tem opinião positiva sobre os Juizados
Filhos adotivos têm dificuldade em amar seus pais adotivos
VERDADES
O filho adotivo não tem dificuldades na escola, nem com a educação ou relacionamento afetivo
Os pais adotivos contam sobre a adoção, mas não gostam de falar sobre isso com mais freqüência com seu filho
O filho adotivo não quer ter muitas informações nem conhecer a família biológica, mas quer conversar com os pais adotivos sobre a adoção
A escolha da criança não determinou maior ou menos qualidade no relacionamento afetivo
63% dos adotantes adotaram por infertilidade e 37% alegaram motivações altruístas = ajudar a criança
A motivação (altruísmo ou infertilidade) não determinou melhor relacionamento afetivo
Existem adotantes em todas as faixas econômicas, mas há predomínio de pessoas com melhor poder aquisitivo e melhor condição sócio-cultural
São os adotantes de menor poder aquisitivo e nível sócio-cultural que mais fizeram adoções altruístas e apresentaram exigências menores em relação à criança. A proporção de pessoas das religiões espíritas e protestantes é mais alta entre os adotantes do que na população em geral
Sim, os adotantes adotam bebês até 3 meses (71%), com leve preferência por meninas de cor branca e saudáveis.
Os adotantes e filhos adotivos afirmam que é fundamental ter uma preparação para a adoção
52% das adoções é legal – feita nos Juizados e 48% são adoções informais – registro da criança como filho biológico
Famílias por adoção sofrem discriminação e os filhos afirmam que ela vem quase sempre da família extensa e dos amigos e não de estranhos
A cor da pele da criança adotada não trouxe maior discriminação ou tratamento preconceituoso
Pais e filhos biológicos afirmam que o tratamento é igual, mas os filhos adotivos dizem que, às vezes, os biológicos tem melhor tratamento
Um dos maiores problemas encontrados na famílias foi quando houve ocorrência de revelação tardia (após os 6 anos) e/ou inadequada (feita por terceiros)
Os pais devem sentir-se confortáveis, falar disso com o filho adotivo. Filhos adotivos dizem que o "diálogo" é um fato importante para o sucesso da relação adotiva.
Tanto aqueles que fizeram adoções legais quanto informais, tem uma imagem negativa dos serviços de adoção dos Juizados
92,5% dos filhos adotivos afirmaram amar seus pais; os pais adotivos citam o atributo "ser afetivo" como o principal em seus filhos adotivos
RESUMO DOS RESULTADOS
1. OS ADOTANTES
Apesar de o método de amostragem utilizado nesta pesquisa não oferecer garantias de que ela represente a população brasileira de adotantes e adotados, os dados que utilizamos incluíram famílias adotivas de 17 Estados e 105 cidades brasileiras, o que representa grande diversidade da amostra. Este dados mostram padrões e tendências homogêneas acerca do procedimento e comportamento da família adotiva brasileira.
• Estado civil dos adotantes: casados (88,5%);
• Idade dos adotantes: a idade média da mãe adotiva no momento da adoção era de 32 anos e do pai adotivo, 37 anos;
• Cor da pele dos adotantes: 96,2% das mães e 85,5% dos pais são brancos;
• Religião: predomina a religião católica (65,2%); os adotantes protestantes (17,8%) e os espíritas (1,5%) estão representadas nas família adotivas pesquisadas em maior número do que na população em geral (10,0% e 1,5%, respectivamente);
• Escolaridade dos pais adotivos: aproximadamente metade das mães adotivas (50,4%) e dos pais adotivos (48,4%) está cursando ou possui curso superior;
• Renda salarial familiar: é bastante variada, encontrando-se famílias cuja renda é de três salários mínimos mensais até famílias com mais de 100 salários mínimos mensais. A maioria das famílias adotantes (72,5%) possui renda familiar variando entre 3 e 30 salários mínimos mensais;
• Profissão dos adotantes: as mães adotivas dividem-se em profissões que exigem nível superior (34,2%), em outras profissões de nível primário ou secundário (30,7%), não exercerem atividade remunerada fora do lar (27,3%) ou estão aposentadas (5,0%). Em relação aos pais adotivos, 31,3% deles exercem atividades profissionais que exigem nível superior; 57,7% dos pais têm uma profissão que exige nível primário ou secundário e 8,7% estão aposentados. É interessante observar que 87% das mães adotivas solteiras têm curso superior e profissão compatível com a escolaridade;
• Existência de filhos biológicos: aproximadamente metade (49,2%) das famílias adotivas desta pesquisa têm filhos biológicos, sendo que 84,2% dos filhos biológicos foram gerados antes da adoção;
• Motivo para não ter filhos biológicos: dentre os adotantes pesquisados que não tinham filhos biológicos, 79,8% afirmaram que não geraram filhos por questões de infertilidade ou esterilidade; 8,9% são solteiros; 6,5% afirmaram que optaram por não ter filhos biológicos e 4,8% relataram "outros motivos";
• Número de filhos adotados: a maioria dos adotantes (54,4%) adotou somente uma criança e 45,6% adotaram duas ou mais crianças:
• Idade da criança adotada: a maioria absoluta dos adotantes (71,4%) adotaram um bebê com até três meses de idade; 13,8% adotaram crianças até dois anos de idade (consideradas adoções precoces). Houve, portanto, somente 1,8% de adoções de crianças com mais de 2 anos de idade (consideradas adoções tardias);
• Idade máxima com que uma criança pode ser adotada: 27,9% dos pais adotivos afirmaram que uma criança pode ser adotada com qualquer idade, mas sua exigência foi um bebê com até três meses de idade;
• Cor da criança adotada: a maioria absoluta (70,5%) adotou uma criança de cor branca; 23,8% adotaram uma criança de cor parda; 5,3% adotaram uma criança de cor negra e 0,4% adotou uma criança de cor amarela. Como a adoção de uma criança mestiça por adotantes brancos é considerada, no Brasil, como adoção inter-racial, houve 27,9% de adoções inter-raciais se for considerada a cor da pele da mãe e, 25,7%, se for considerada a cor da pele do pai; desse total de adoções inter-raciais, somente 4,1% foram de adotantes brancos e crianças negras Entre os adotantes pesquisados houve somente 8,1% de casamentos inter-raciais, enquanto a média da população brasileira é de 22,6% (dados do IBGE, citados no Jornal Folha de São Paulo de 23/10/00).;
• Saúde da criança adotada: a maioria absoluta de crianças era perfeitamente saudável (74,9%); os outras possuíam algum problema de saúde no momento da adoção, mas este era, geralmente, sem gravidade, tal como sarna, anemia ou desnutrição;
• Gênero da criança adotada: a preferência por meninas (56,6%) em relação a meninos (43,4%) não é estatisticamente significativa;
• Período de tempo transcorrido desde a primeira adoção: a maioria dos adotantes (55%) realizaram a primeira adoção há mais de cinco anos.
Os adotantes brasileiros são geralmente casais de cor de pele branca, idade média de 34 anos, religião católica mas com uma tendência maior de a adoção ocorrer entre espíritas e protestantes quando se leva em conta a proporção deles na população; aproximadamente metade das mães e dos pais adotantes possuem nível superior, o que representa um perfil de escolaridade muito superior à população; a renda familiar média é de 25 salários mínimos o que também representa um nível econômico superior à distribuição da população; a maioria absoluta das mães e dos pais adotivos tem atividade remunerada e exercem profissões que exigem nível de escolaridade secundário ou superior; as mães pesquisadas apresentaram maior nível de escolaridade do que os pais. É possível encontrar famílias adotantes em todos os níveis sociais e de escolaridade, mas como os adotantes com nível de escolaridade superior e com renda acima de 30 salários mínimos estão super representados entre os adotantes em relação à população em geral, é possível concluir que há uma forte tendência para a adoção ocorrer com pessoas de maior poder aquisitivo e de maior escolaridade Aproximadamente 8% da população brasileira possui nível de escolaridade superior de acordo com o IBGE. . Aproximadamente 51% das famílias não têm filhos biológicos por problemas de infertilidade e adotam uma ou duas crianças. Os adotantes brasileiros adotaram, em maioria absoluta, bebês de até três meses de idade, brancos, saudáveis e com uma leve preferência pelo gênero feminino.
Os adotantes dizem que adotam por problemas de infertilidade e, por isso, querem um bebê parecido com sua família, "porque existe muito preconceito dos outros", e que "possa ser cuidado desde pequenininho para poder sentir tudo o que tenho direito, até noites sem dormir". Também preferem crianças saudáveis porque "não têm habilidade emocional, tempo ou dinheiro para cuidar de crianças com problemas". Muitos daqueles que já possuíam filhos biológicos resolveram adotar por causa de infertilidade apresentada na segunda gestação ou novo casamento. Os adotantes preferem adotar crianças mais novas, mas existe um bom número que acha que é possível adotar crianças com qualquer idade. É preciso trabalhar e preparar a população de adotantes para essa situação. O padrão de adotantes e de crianças adotadas é bastante homogêneo e é o que se considera "adoção clássica", ou seja, a adoção que visa à satisfação das necessidades dos adultos. Os adotantes simplesmente cadastraram-se e ficaram esperando o bebê ideal, ou procuraram intermediários para realizar uma adoção informal.
2. OS FILHOS ADOTIVOS E BIOLÓGICOS QUE RESPONDERAM À PESQUISA
Idade média de 16 anos, solteiros, sem filhos biológicos ou adotivos, cursando o segundo grau ou curso superior.
A maioria absoluta gostou de participar desta pesquisa: "pude mostrar que nem todo filho adotivo é problemático, isso é papo furado de quem não entende do assunto"; "meus amigos ficam perguntando e enchendo de como é ser filho adotivo e nem ligo mais, gostei de falar com vocês"; "tenho orgulho de ter um irmão adotivo"; "no começo foi difícil a vinda do meu irmão, fiquei até com ciúmes, mas agora somos irmãos de verdade".
3 ADOÇÃO LEGAL OU INFORMAL
Embora nesta amostra aqui utilizada praticamente metade das adoções tenham sido legais e metade informais, estima-se que na população o número de adotantes informais seja superior aos adotantes legais, pois muitas adoções informais são realizadas completamente em segredo e estes adotantes, por conseqüência, não participam de pesquisas. Além do mais, o grande número de abandono de bebês em nossos país e a imagem negativa que a população tem do Poder Judiciário, no que tange às adoções, e a falta de campanhas para conscientização, também determinam esse tipo de adoção. No entanto, a tendência é que o número de adoções informais esteja em franca diminuição por causa da maior facilidade para adoção legal proporcionada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Os adotantes legais e informais desacreditam e reclamam do trabalho dos Juizados da Infância e da Juventude, e adoções legais e ilegais são feitas tanto nas capitais quanto nas cidades do interior, mas os dados mostram que existe preferência dos adotantes legais com maior poder aquisitivo de realizá-las fora do seu Estado de moradia. Baixo nível de escolaridade e baixa renda familiar dos adotantes estão correlacionados com adoções informais.
4 MOTIVAÇÃO PARA A ADOÇÃO
A maioria absoluta dos adotantes adotam uma criança para resolver um problema de infertilidade, mas o número de adoções altruístas, mais características de países desenvolvidos, está em ascendência. Quem tem motivação mais altruísta acha que não se deve escolher a criança, mas ficar com a criança designada e apresenta menor tendência de fazer exigências em relação às características físicas da criança a ser adotada, mas, assim como quem adotou por infertilidade, tem receio de adotar uma criança que viveu muitos anos em instituições. A comparação de adotantes de religião católica, protestante e espírita revela que, ao contrário dos católicos, os protestantes e espíritas apresentam maior tendência a realizar adoções altruístas. São os adotantes de menor renda familiar que apresentam maior tendência de realizar uma adoção por solidariedade.
A motivação para a adoção (infertilidade ou altruísmo) não apresentou relação com a dificuldade no relacionamento afetivo, nem com a educação do filho adotivo, mas os pais adotivos motivados pelo altruísmo tendem a ser mais críticos em relação a seus filhos, atribuindo-lhes maior número de atributos negativos do que os pais cuja motivação foi a infertilidade.
Os adotantes adotam porque querem exercer a parentalidade: "era meu grande sonho ser mãe e agora estou realizada"; "quando descobrimos que não poderíamos ter filhos, resolvemos adotar, mas antes passamos por tratamentos dolorosos e acho que deveria ter adotado antes; "casei novamente e tive dificuldade de ter outro filho, então resolvermos adotar". Muitas pessoas fazem uma adoção por motivos altruístas: "deixaram uma criança na porta da minha casa, como não ficar com ela? Agora estamos completamente apaixonados"; "Penso que mais pessoas deveriam adotar essas crianças que estão nos orfanatos"; "Era uma prima que não podia cuidar daquela criança e nós ficamos com ela". Os filhos adotivos acham que seus pais decidiram pela adoção porque não podiam ter filhos: "meus pais queriam ter uma menina"; e os filhos biológicos pensam que seus pais fizeram uma adoção por solidariedade: "eles queriam ajudar uma criança ter um lar".
5 ATITUDES DA FAMÍLIA ADOTIVA EM RELAÇÃO À ADOÇÃO
Os filhos adotivos e filhos biológicos que têm irmãos adotivos apresentam um discurso no qual afirmaram, com maior freqüência, que desejam adotar uma criança, mas ficaram em dúvida em relação ao desejo de gerar filhos naturais. Essa pode ser uma fala socialmente correta, pois contrasta com a opinião dos filhos adotivos, que vêem a adoção, em primeiro lugar, como uma solução para a infertilidade. Os adotantes estão divididos em relação à importância de se escolher a criança a ser adotada, mas a maioria afirmou que não fez exigências. Aqueles que determinaram as características do adotado preferiram um bebê, branco e saudável. No entanto, não foi a escolha da criança que determinou maior ou menor dificuldade no relacionamento afetivo. Os filhos adotivos e biológicos não pretendem fazer exigências, caso decidam adotar. Filhos adotivos insatisfeitos não têm intenção de adotar uma criança, mas aqueles que pretendem adotar justificam a adoção quando houver infertilidade, reproduzindo o modelo de seus pais.
A história de adoção afeta a probabilidade de adotarem uma criança: tantos os filhos adotivos quanto os filhos biológicos de famílias mistas falam mais freqüentemente de adotar um filho do que de procriar: "eu gostaria de adotar uma criança que não tivesse família, como aconteceu comigo" (Filho adotivo); "penso que a adoção deve ser parte do planejamento familiar" (filho biológico). A questão da escolha é subjetiva e não se sabe exatamente o se limite: "nós não escolhemos nada, só a idade e a cor da pele"; "eu acho que a gente deveria poder ir até o orfanato e escolher a criança que tiver mais empatia"; "eu queria uma menina loira como eu e ganhei uma mulata que eu adoro".
6 IDÉIAS E OPINIÕES EM RELAÇÃO À ADOÇÃO
A maioria dos adotantes afirmaram que não tem medo que características hereditárias possam afetar o comportamento dos filhos adotivos, mas o número de adotantes que concordaram que "não adotariam um criança que fosse filho de marginais porque isso poderia passar para a personalidade do filho", já é suficiente para se afirmar que é preciso preparar os adotantes e esclarecer noções de hereditariedade e de comportamento, pois, além de tudo, acham que se deve escolher a criança para minimizar esse aspecto. A noção de que a adoção inter-racial é mais fácil do que a adoção de uma criança com deficiência prevaleceu, mas o discurso, especialmente dos pais adotivos, não condiz com sua prática. Por outro lado, os filhos adotivos que afirmaram ser possível uma adoção inter-racial têm pele parda ou negra. Embora os adotantes tenham afirmado que não teriam medo de uma adoção inter-racial, novamente o discurso não condiz com o tipo de adoção realizada. Todos da família adotiva acreditam que uma criança pode se recuperar depois da adoção, mesmo tendo sofrido em sua história anterior, mas os filhos adotivos, mais freqüentemente, do que pais e irmãos, pensam que existem aspectos que nunca serão superados mesmo com uma adoção feliz. Embora tanto os filhos adotivos quanto biológicos afirmem que o tratamento recebido foi igual, existe maior tendência dos filhos adotivos de sentirem-se negligenciados em favor dos filhos biológicos.
O discurso dos adotantes não condiz com sua prática: "claro que é possível adotar uma criança com qualquer idade", disse uma mãe que adotou um bebê de um mês e que fez tal exigência. Na verdade, os adotantes apresentaram mais um discurso socialmente correto, lembrando o direito de todas as crianças de terem uma família. No entanto, é melhor ter um discurso correto do que nem apresentar discurso nem comportamento, ou seja, é possível supor que os participantes estariam dispostos a adotar crianças mais velhas, de cor, ou mesmo com problemas de saúde, caso eles tivessem sido expostos a estas situações, ouvido depoimentos, participado de reuniões de preparação e conscientização, como revela uma adotante: "nós queríamos uma menina recém-nascida. Já tínhamos filhos biológicos. Depois de freqüentarmos um Grupo de Apoio à Adoção e visto outras histórias, adotamos três irmãos, com 2, 3 e 6 anos de idade. Somos inseparáveis e felizes!" O receio, tanto da "voz do sangue" como das seqüelas da institucionalização, existe. Este receio da institucionalização não é de todo infundado, como mostram diversos estudos sobre o tema, desde o primeiro estudo de Burlingham e Freud (1942) com crianças órfãs institucionalizadas. Mas, alguns pensamentos sobre a possibilidade de um comportamento marginal dos pais passar para os filhos não tem qualquer fundamento e precisa ser cuidadosamente esclarecido: filho de ladrão não terá genes que determinem o comportamento de roubo, furto ou assalto. Não existem estudos nacionais sobre o desenvolvimento longitudinal de crianças adotivas, e a comparação com estudos internacionais precisa ser sempre cuidadosa, porque a realidade da adoção é bastante diferenciada em diferentes países e culturas. Thorburn (1994) realizou um estudo longitudinal durante 10 anos com crianças adotadas e encontrou uma taxa de rompimento de 10% para aquelas crianças que foram colocadas antes dos 4 anos e de 40% para aquelas que tinham mais de 8 anos.
7 CONDIÇÕES ÓTIMAS PARA UMA ADOÇÃO
Pais adotivos enfatizam mais atributos pessoais e subjetivos como condições essenciais para pessoas que desejam adotar uma criança e para o sucesso da relação, enquanto filhos adotivos falam da necessidade de condições financeiras, responsabilidade e diálogo. Os pais, filhos adotivos e biológicos admitem a necessidade de uma preparação para quem deseja ter um filho, ao contrário do que ocorreu em sua história de vida; os filhos adotivos enfatizam que deveria haver campanhas incentivando mais pessoas a adotar uma criança, mas não sabem avaliar o trabalho dos Juizados da Infância e da Juventude, enquanto seus pais avaliam negativamente este trabalho.
Existem algumas diferenças interessantes entre o discurso de pais e de filhos adotivos no que concerne à avaliação de pessoas aptas para adotar e de fatores que contribuem para o êxito de uma relação: "uma pessoa deve ter muito equilíbrio em sua vida para poder adotar uma criança", dizem os pais; "é preciso ter boas condições para educar e criar uma criança", dizem os filhos. No entanto, para o sucesso da relação, todos falam em "amor" e poucos falam de construção da relação, de ações concretas, como contar a verdade ao filho, aceitar as diferenças ou os outros, e, contraditoriamente, falam que uma preparação é importante, mas não passaram por nenhum tipo de preparação prévia. Os adotantes que afirmaram ter feito alguma preparação, o fizeram com amigos, vizinhos ou particularmente: "conversei muito com meus amigos e com meu médico"; "meditei muito sobre o que eu queria fazer". Na verdade, alguns tipos de conversas com pessoas não especializadas podem até acentuar e perpetuar mitos e preconceitos: "meu médico aconselhou uma adoção porque, desta forma, seria mais fácil eu conseguir engravidar", afirmaram algumas mães; "muitas pessoas me falaram bobagens e casos catastróficos e diziam que eu só teria problemas com a adoção", ressaltou um pai adotivo; "no começo eu achava que uma mulher sozinha não pudesse adotar porque todos falavam isso, e agora sou mãe solteira de minha filha adotiva".
O que é possível perceber é que a preparação para adotantes é um tema indispensável até porque muitos já fizeram suas próprias investigações que nem sempre trazem resultados positivos. Os adotantes que ouviram depoimentos de outras pessoas que já passaram pela adoção conseguem entender melhor todo o processo e compreender suas próprias motivações e expectativas. Se essa preparação for realizada pelos técnicos dos serviço de adoção dos Juizados, ela também pode servir como uma etapa inicial de conhecimento do candidato.
8. DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTO DOS FILHOS ADOTIVOS
Segundo as respostas mais freqüentes apresentadas nesta pesquisa, os pais adotivos, seus companheiros e possíveis filhos biológicos têm ótimo relacionamento com o filho adotivo, estão satisfeitos com o desempenho escolar e com os atributos físicos e de personalidade de seus filhos; não tiveram dificuldades na educação nem no relacionamento afetivo, e aqueles que as tiveram não as relacionam com a adoção, argumentando, inclusive, que os problemas foram equivalentes entre filhos adotivos e biológicos; têm uma visão otimista da relação; estão satisfeitos com o rumo de sua vida e nada fariam para alterá-la e aconselham outras pessoas a adotarem uma criança.
Muitos pais assumem que não estavam absolutamente preparados para receber uma criança adotiva em sua família, especialmente quando a criança não era mais um bebê, e o relato de dificuldades na educação trouxe junto dificuldades no relacionamento afetivo: "fiquei assustada e com medo de não gostar tanto da minha filha adotiva quanto do meu filho da barriga" (Mãe que adotou uma menina de 1 ano); "ele já veio com hábitos da instituição, não sabia comer direitinho..." (Mãe que adotou um menino de 3 anos); "fiquei com medo de que herdasse comportamentos de sua família" (Mãe que adotou uma menina de 2 anos). Porém, a maioria dos adotantes, especialmente aqueles com problemas de infertilidade, realizaram um sonho e estão satisfeitos e têm uma visão ótima do futuro: "meu sonho era ser mãe e estou realizada"; "não consigo pensar em uma alegria maior no mundo do que meu filho adotivo"; "estou feliz por ter ajudado uma criança a viver em uma família"; "encontrei minha filha em um terreno ao lado da minha casa, mas ela é a minha alegria, o meu tudo"; "com meu segundo filho adotivo, tudo foi mais fácil".
9 PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO SOCIAL PELA FAMÍLIA ADOTIVA
Os filhos adotivos consideram que as pessoas em geral discriminam os adotados, mas não sabem por que isso ocorre e, contraditoriamente, a maioria afirmou que eles próprios nunca sofreram atos de discriminação, mas para aqueles que a sofreram, ela veio não de pessoas desconhecidas, mas da família e dos amigos, revelando o tamanho do preconceito social em relação às pessoas adotadas, sendo que a cor da pele do filho adotivo não tem relação com o fato de ele ser mais ou menos discriminado. Um quarto dos filhos adotivos sente vergonha com sua situação e este fator não está relacionado com a sua cor da pele: de 10 crianças negras adotadas por pais pardos ou brancos, somente uma afirmou sentir vergonha de ser filho adotivo. A maioria dos filhos adotivos estão satisfeitos com a sua aparência, sejam eles parecidos ou não com a família adotiva. Um fator interessante que trouxe risco na educação do filho adotivo, refere-se ao tratamento discriminativo de outras pessoas da família ou não, pois os filhos adotivos que mais sofreram preconceitos, foram aqueles cujos pais reportaram dificuldades em sua educação. O inferno, realmente, são os outros, como disse ironicamente Sartre (1947), e é preciso uma ampla conscientização da adoção como uma contingência legítima de constituição ou aumento de uma família.
De maneira geral, os pais adotivos e os filhos biológicos sentem-se mais orgulhosos com a adoção do que o filho adotivo, que não se referiu a este orgulho: "eu tenho orgulho de dizer que tenho um irmão adotivo"; "nunca tenho vergonha de falar da adoção, pelo contrário, meu filho adotivo é o orgulho da minha vida". Boa parte dos filhos adotivos ressente-se das discriminações: "a maioria das pessoas trata o adotivo de forma diferente, nem sei por que, acho que por falta de cultura"; "tem um tio meu que fala que eu não sou da família porque não tenho o mesmo sangue"; "os amigos ficam perguntando e eu me sinto incomodado"; "procuro não falar muito que sou adotado, as pessoas olham pra você de um jeito diferente". Poucos filhos adotivos falam que gostariam de ser mais parecidos com sua família adotiva, mas aqueles que são parecidos fisicamente gostam disso: "as pessoas até falam que eu pareço muito com o meu pai e eu gosto"; "somos diferentes em tudo, até na cor da pele, mas amor não tem padrão de cores, tem?"; "eu acharia chato ser muito diferente deles"; "eu gostaria de ser mais parecida, e ter olhos verdes como a minha mãe".
10 A REVELAÇÃO DA ADOÇÃO
Contar para o filho "desde sempre" é a melhor maneira para que ele encare a situação como boa e que isso seja natural em sua vida. Contar tardiamente trouxe reações negativas e o sentir vergonha está relacionado com a idade em que a criança soube de sua adoção, ou seja, a revelação tardia trouxe maior sentimento de vergonha, pois a criança passa a entender que, se foi escondido, não deveria ser um fato muito bom. Geralmente é a mãe que tomou a iniciativa quando seria um assunto que deveria ter sido apresentado pelo casal.
Todos estão de acordo de que contar a verdade sobre a adoção é fator fundamental para a construção de uma relacionamento verdadeiro na família por adoção. No entanto, os pais e os filhos percebem a revelação como importante porque saber "mais tarde" pode ser pior, ou seja, não é pelo direito da criança, pela importância na formação de sua identidade, mas porque isso pode ser uma comportamento de esquiva de uma situação aversiva no futuro. Assim, em muitas vezes a revelação está sendo adiada e, conseqüentemente, ocorre de maneira inadequada, feita por terceiros e/ou tardiamente: "fiquei sabendo por um vizinho, quando tinha 13 anos e foi horrível"; "fiquei chocada quando soube, eu não esperava uma mentira dessas"; "ficamos com medo de contar e ela nos rejeitar"; "eu queria passar uma borracha em seu passado".
11 FAMÍLIA DE ORIGEM DO FILHO ADOTIVO
Os filhos adotivos e biológicos concordam que conhecer a história de origem do adotado é importante, No entanto, os pais adotivos (especialmente quando este têm somente filhos adotivos e não biológicos) têm muitas dúvidas sobre a importância dessa história e isso pode ser um ambiente propício para criar um clima de ambivalência e insegurança em algumas famílias adotivas. Os filhos querem saber um pouco mais sobre suas histórias, embora todos os detalhes não sejam importantes, mas querem conversar mais com seus pais sobre isso, e os pais têm receio de que essas conversas possam influenciar o comportamento de seu filho. Com isso, os filhos afirmam que não têm muito interesse nas próprias histórias, mas muitos não conversam simplesmente para não magoar seus pais ou deixaram a questão sem resposta, mostrando dificuldade em respondê-la. Os dados mostram que as informações sobre a família de origem do filho adotivo resume-se a uma mãe sozinha e financeiramente carente, mas estes filhos imaginam, de forma mais romântica, um casal que os abandonou por amor, por falta de condições financeiras, assim como afirma Costa (1988, p. 212): "o estigma de mãe solteira e a composição da família da doadora explicariam, no caso, a doação. A decisão também estaria assentada no reconhecimento de que, sem condições econômicas e nem morais para ficar com seu filho (temendo, como teme, a reação da família que desconhece a sua gravidez), essa mulher termina por entregar o fruto de seu 'deslize' (ou 'pecado') para que uma 'família boa' (i.é. de classe média, abastada) possa criá-lo. A doação se configura então como um ato de amor da mãe".
Os pais adotivos gostariam de esquecer que existe uma outra origem para seus filhos adotivos: para eles é doloroso falar disso, especialmente quando o motivo foi infertilidade, porque a todo momento o filho adotivo lhes lembra da sua impossibilidade de gerar um filho do "próprio sangue" e até mostram a sua raiva com essa origem e recusam-se a chamar de "família" ou mesmo de "mãe": "eu não acho que ele teve outra mãe, mas somente uma barriga que o rejeitou"; "família é a nossa, e a gente não precisa ficar falando de outra, que nem acho que é família"; "eu tenho raiva em pensar que a minha filha foi abandonada". Os filhos sentem a ambivalência dos pais sobre o tema e sentem-se inseguros: "eu queria saber algumas coisas, mas tenho medo de magoar meus pais, porque sou feliz com eles"; "não quero deixar meus pais adotivos tristes".
12 SENTIMENTOS SOBRE A FAMÍLIA DE ORIGEM
Ao contrário do que supõe o senso comum, de que "o filho adotivo tem uma fixação em sua família biológica", a maioria absoluta dos filhos adotivo não tem informações sobre sua família de origem, não quer conhecê-la e nem acha importante ter informações. A maioria dos filhos adotivos afirmaram que não sentem nada por sua família de origem e se pudessem falar alguma coisa para ela, falariam que estão felizes com sua família adotiva ou perguntariam o motivo do abandono.
A maioria absoluta não tem raiva de sua família de origem, mesmo porque já a idealizou como uma família pobre que os abandonou por falta de condições financeiras, mais do que por falta de amor: "acho que eles eram muito pobres, mas eu diria que estou bem demais"; "eu agradecia a eles por terem me dado a vida"; "eu nem penso neles, eles me rejeitaram e estou super feliz aqui"; "a minha mãe verdadeira e meu pai verdadeiro são esses que me criaram"; "não tenho outra família além dessa que eu adoro".
13 SENTIMENTOS E DINÂMICA FAMILIAR ATUAL DA FAMÍLIA ADOTIVA
Os filhos adotivos sentem-se parecidos com sua família adotiva, tanto fisicamente quanto no temperamento, acham que a mudança de sua vida foi para melhor depois da adoção, a maioria não se sentiu tratada de forma diferente que outros filho biológicos de seus pais, têm bom relacionamento com a família adotiva extensa, apesar de haver relatos de dificuldades com parentes e irmãos que são filhos biológicos dos pais adotivos. Os filhos adotivos imaginam-se em situação miserável se não tivessem sido adotados, relacionam a adoção com "amor" e amam seus pais adotivos e os percebem como seus pais "verdadeiros".
A maioria absoluta dos filhos adotivos estão completamente satisfeitos com sua família adotiva: "eu adoro meus pais, mais do que tudo"; "sinto amor mesmo, nossa, não me vejo sem eles"; "eles são tudo para mim"; "a gente nem se lembra da adoção"; "não me sinto 'adotiva', me sinto filha de verdade e nem penso muito nisso"; "foi bom responder esse questionário, para mostrar que filho adotivo não é todo problemático"; "as pessoas discriminam e nem sabem do que estão falando; amor a gente constrói e não vem pelo sangue".
É possível afirmar que as famílias que adotam crianças no Brasil fazem-no para resolver problemas pessoais de esterilidade ou infertilidade; não são adequadamente preparadas para este papel pelos Serviços de Adoção; ressentem-se dos preconceitos existentes sobre adoção, mas podem ser tão felizes quanto as famílias com descendentes biológicos. Se ainda existem inúmeros problemas com a adoção no Brasil, isso indica que temos muito ainda que estudar e que, especialmente nós, psicólogos, devemos traçar estratégias de intervenção, porque não tenho dúvida de que mesmo a experiência de problemas, discriminações, preconceitos, lutas, encontros e desencontros com sua história de origem, trazem menos dor e sofrimento do que o desamparo de uma criança abandonada em uma instituição.
http://www.mprs.mp.br/infancia/doutrina/id190.htm

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