domingo, 10 de agosto de 2014

SOLTEIRO DO ES ADOTA GAROTO DE SETE ANOS E TEM PRIMEIRO DIA DOS PAIS


10/08/2014
Naiara Arpini
Do G1 ES
Jadilson adotou Rian há quatro meses e vive o que diz ser uma 'reviravolta'. Dupla comemora interação e fala sobre mudanças de vida após adoção.

Diminuir o ritmo nas baladas e encontrar um tempinho no dia a dia corrido não está sendo um sacrifício na vida do empresário Jadilson de Araújo, de 30 anos. Pelo contrário, a mudança de vida, que ele caracteriza como uma “reviravolta”, é consequência de um ato de amor: a adoção de Rian, de sete anos. Elétrico e muito sorridente, o pequeno é considerado um marco na vida do empresário, que é solteiro e cuida da criança com a ajuda de uma babá. “Minha vida agora é dividida em duas fases: antes do Rian e depois do Rian. Está valendo demais”, se derrete. Há apenas quatro meses convivendo, a dupla vai passar o primeiro Dia dos Pais juntos neste domingo (10).
Jadilson contou que todo o processo de adoção foi complicado. O empresário passou por todas as etapas exigidas pela Justiça e só depois de muito tempo conseguiu, finalmente, ter Rian em casa. “É muito burocrático. Tem gente que chega no meio do caminho e desiste”. Sob o olhar do filho, no apartamento onde moram, na Serra, no Espírito Santo, ele não poupou elogios ao menino. “O Rian para mim é um presente de Deus, entrou na minha vida sem esperar, quando eu já estava perdendo as esperanças com a adoção, porque demorou bastante o processo. Do nada, ele apareceu e mudou a minha vida completamente”, contou.
O fato de Jadilson ser solteiro não foi um empecilho em nenhum momento. E, segundo ele, a vontade de adotar uma criança surgiu após realizar um trabalho voluntário, onde tinha contato com várias crianças. “Há uns três anos comecei a fazer serviço voluntário em um abrigo para crianças. Uma amiga trabalhava lá e através dela conheci uma criança pela qual me apaixonei, mas essa criança não estava disponível para adoção. Quando ficou disponível, decidi que iria adotá-la. No entanto, recebi orientações erradas e perdi tempo, então outra família adotou a criança. Isso me deixou bastante chateado, quis desistir”, disse.
Mas, segundo o próprio empresário, o desânimo durou pouco tempo. Meses depois, ele recebeu a ligação de uma amiga advogada, que o convenceu a tentar uma nova adoção. “Decidi que não ia desistir por causa de uma desilusão. Dei entrada no processo de habilitação e um ano e meio depois fui acionado pela Vara da Infância de Cariacica. Fui convidado a conhecer o Raian e foi amor a primeira vista”, contou.
De acordo com Jadilson, Rian foi pro abrigo com quatro anos, pois os pais biológicos eram moradores de rua. “Ele fala muito de uma vida social que parece que ele convivia com pessoas de condições financeiras boas. Não sei se é verdade ou fruto da imaginação. Mesmo assim, adaptação foi 100%, é uma criança travessa, mas obediente. Aparenta estar muito feliz”, disse;

ADAPTAÇÃO
Contrariando a preferência da maioria das famílias, que optam por adotar crianças mais novas, Jadilson quis adotar uma criança já crescida. “Exatamente por eu ser solteiro, ter uma vida corrida, eu sabia que uma criança maiorzinha já me ajudaria, seria mais fácil de entender a minha rotina, obedecer os limites. O Rian já faz praticamente tudo sozinho. Ele acorda cedo, toma banho sozinho, arruma o material dele, já compreende tudo”, contou.
Hoje, ele está com a guarda provisória do menino e reúne os documentos necessários para dar entrada na guarda definitiva. Para ele, o pouco tempo de convivência familiar já é suficiente para provar o carinho e afeto entre ambos. “A gente conseguiu se adaptar muito bem. É notório o carinho dele por mim. Ele começou a me chamar de pai muito cedo, foi uma surpresa. Ele faz questão de falar pra todo mundo que é meu filho, faz questão de enfatizar. Existe uma interação muito grande entre nós, e todo mundo diz que ele é a minha cara. A juíza que concedeu a guarda me encontrou com ele e perguntou: ‘você fez o filho e largou onde?’”, brincou.

“IMAGINA UM CARA SOLTEIRO E BALADEIRO ADOTAR UM FILHO" Jadilson, pai de Rian

MUDANÇA DE VIDA
Ainda segundo o empresário, a decisão mudou totalmente a rotina que ele tinha. “Imagina um cara de 30 anos, solteiro, baladeiro e que adora viajar decidir adotar um filho. Antes eu ia para as baladas, agora as baladas vêm aqui para casa. Eu não posso sair com o Rian, então os amigos, que não me abandonaram, trazem a carne, a bebida, os jogos… e a gente fica aqui”, explicou.
Mesmo bastante agitado, o pequeno é de poucas palavras quando se trata em definir como é a relação dele com o pai. “Ele é legal, é jovem… tá ficando velho. Brinca comigo, e às vezes ele fica bravo”, resumiu, arrancando gargalhadas do pai adotivo e da babá. E se os planos para o domingo (10) são passeios comuns entre pais e filhos, o presente que Rian pretende dar a Jadilson é pra lá de inusitado: “O presente dele é que ele quer que eu seja estudioso”. Perguntado se ele dará esse presente ao pai, ele responde com um sonoro “Ahã”.
Quanto à expectativa sobre o primeiro Dia dos Pais ao lado do filho, Jadilson revela não estar tão ansioso assim. Para ele, a relação entre pai e filho já é tão intensa, que este domingo (10) não parece ser a primeira data especial comemorada com o pequeno. “Vou ser sincero, não tenho muita expectativa para o primeiro Dia dos Pais. É tudo tão natural, parece que ele já mora comigo desde que nasceu, e pra mim, é um dia como outro qualquer". Ainda assim, algum tempo depois ele confessa que este domingo tem sim um gostinho diferente. “Para mim, Dia dos Pais nunca teve significado, e esse está sendo o mais importante da minha história”, concluiu o ‘pai de primeira viagem’.

NO SITE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA É POSSÍVEL VER O PASSO A PASSO DA ADOÇÃO. CONFIRA:

1) EU QUERO – Você decidiu adotar. Então, procure a Vara de Infância e Juventude do seu município e saiba quais documentos deve começar a juntar. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. Os documentos que você deve providenciar: identidade; CPF; certidão de casamento ou nascimento; comprovante de residência; comprovante de rendimentos ou declaração equivalente; atestado ou declaração médica de sanidade física e mental; certidões cível e criminal.

2) DÊ ENTRADA! – Será preciso fazer uma petição – preparada por um defensor público ou advogado particular – para dar início ao processo de inscrição para adoção (no cartório da Vara de Infância). Só depois de aprovado, seu nome será habilitado a constar dos cadastros local e nacional de pretendentes à adoção.

3) CURSO E AVALIAÇÃO – O curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção é obrigatório. Na 1ª Vara de Infância do DF, o curso tem duração de 2 meses, com aulas semanais. Após comprovada a participação no curso, o candidato é submetido à avaliação psicossocial com entrevistas e visita domiciliar feitas pela equipe técnica interprofissional. Algumas comarcas avaliam a situação socioeconômica e psicoemocional dos futuros pais adotivos apenas com as entrevistas e visitas. O resultado dessa avaliação será encaminhado ao Ministério Público e ao juiz da Vara de Infância.

4) VOCÊ PODE – Pessoas solteiras, viúvas ou que vivem em união estável também podem adotar; a adoção por casais homoafetivos ainda não está estabelecida em lei, mas alguns juízes já deram decisões favoráveis.

5) PERFIL – Durante a entrevista técnica, o pretendente descreverá o perfil da criança desejada. É possível escolher o sexo, a faixa etária, o estado de saúde, os irmãos etc. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo não seja separado.

6) CERTIFICADO DE HABILITAÇÃO – A partir do laudo da equipe técnica da Vara e do parecer emitido pelo Ministério Público, o juiz dará sua sentença. Com seu pedido acolhido, seu nome será inserido nos cadastros, válidos por dois anos em território nacional.

7) APROVADO – Você está automaticamente na fila de adoção do seu estado e agora aguardará até aparecer uma criança com o perfil compatível com o perfil fixado pelo pretendente durante a entrevista técnica, observada a cronologia da habilitação. Caso seu nome não seja aprovado, busque saber os motivos. Estilo de vida incompatível com criação de uma criança ou razões equivocadas (para aplacar a solidão; para superar a perda de um ente querido; superar crise conjugal etc.) podem inviabilizar uma adoção. Você pode se adequar e começar o processo novamente.

8) UMA CRIANÇA – A Vara de Infância vai avisá-lo que existe uma criança com o perfil compatível ao indicado por você. O histórico de vida da criança é apresentado ao adotante; se houver interesse, ambos são apresentados. A criança também será entrevistada após o encontro e dirá se quer ou não continuar com o processo. Durante esse estágio de convivência monitorado pela Justiça e pela equipe técnica, é permitido visitar o abrigo onde ela mora; dar pequenos passeios para que vocês se aproximem e se conheçam melhor. Esqueça a ideia de visitar um abrigo e escolher a partir daquelas crianças o seu filho. Essa prática já não é mais utilizada para evitar que as crianças se sintam como objetos em exposição, sem contar que a maioria delas não está disponível para adoção.

9) CONHECER O FUTURO FILHO – Se o relacionamento correr bem, a criança é liberada e o pretendente ajuizará a ação de adoção. Ao entrar com o processo, o pretendente receberá a guarda provisória, que terá validade até a conclusão do processo. Nesse momento, a criança passa a morar com a família. A equipe técnica continua fazendo visitas periódicas e apresentará uma avaliação conclusiva.

10) UMA NOVA FAMÍLIA! – O juiz profere a sentença de adoção e determina a lavratura do novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Você poderá trocar também o primeiro nome da criança. Nesse momento, a criança passa a ter todos os direitos de um filho biológico.
Rian mora com Jadilson há apenas quatro meses, e adora a companhia do pai (Foto: Naiara Arpini/ G1 ES)
Pai e filho brincam juntos no condomínio onde moram (Foto: Naiara Arpini/ G1 ES)
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/08/solteiro-do-es-adota-garoto-de-sete-anos-e-tem-primeiro-dia-dos-pais.html

Nenhum comentário: