quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ADOÇÃO: COMO CRIAR UM VÍNCULO COM SEU FILHO


Escrito para o BabyCenter Brasil
Um longo e difícil capítulo da vida se encerra quando seu filho adotivo finalmente chega em casa, mas a verdade é que outro se inicia praticamente ao mesmo tempo. Às vezes não dá nem para respirar de alívio porque uma mistura de outras emoções logo aparece. Como será a relação dali para a frente? Vai dar tudo certo? O que você pode fazer para que surja logo o amor entre vocês dois?
CALMA COM A EXPECTATIVA
Em primeiro lugar, não espere sentir um amor imediato, ou se sentir mãe desde o primeiro instante. Até mesmo num nascimento "tradicional", nem sempre o amor aparece logo que o bebê sai da barriga da mãe.
Vocês são duas pessoas, e precisam de tempo para se conhecer, mesmo que se trate de um recém-nascido. Haja o que houver, você é a mãe do seu filho, e ele vai sempre enxergar você como a pessoa mais especial do mundo.
Lembre-se também de que cada criança tem uma personalidade. Umas são carinhosas e adoram um chamego, outras são mais independentes, outras são mais sérias. Não tem nada a ver com o fato de ela ter sido adotada ou não -- é o temperamento da criança. Tente pensar nas crianças com que você já conviveu, para comprovar essa diversidade.
PASSE BASTANTE TEMPO COM A CRIANÇA
Aproveite que você tem direito por lei à licença-maternidade em caso de adoção e até mesmo de guarda judicial com fins de adoção (120 dias para criança até 1 ano, 60 dias para criança de 1 a 4 anos e 30 dias para criança de 4 a 8 anos).
Fique o máximo que puder com seu filho, assim que ele chegar. Pelo menos durante a primeira semana, os novos pais devem ser os principais responsáveis pelos cuidados com a criança.
Por mais que todo mundo queira receber o novo integrante da família, nos primeiros dias limite o número de visitas, e explique para todo mundo que dar colo, dar comida, dar banho, pôr para dormir, são coisas que precisam ser feitas por pai e mãe, para que a criança saiba o papel deles.
Seu filho precisa saber que você é a pessoa a quem ele vai recorrer. Olhe dentro dos olhos dele, sempre que puder. Converse bastante com ele (mesmo que seja um bebezinho), cante. Se ele mostrar que gosta, você pode fazer uma massagem.
A especialista e mãe adotiva JoAnne Solchany, que trabalha na área, recomenda alguns passos na chegada de uma criança por adoção:
• Seja previsível: Não importa a idade, no começo responda rápido sempre que seu filho chamar ou chorar. Rápido significa em 15 minutos. Mesmo que seja só para responder um "estou indo!". Seu filho precisa saber que, sempre que precisar, você vai aparecer.
• Coloque-se no lugar da criança: Procure pensar pelo ponto de vista do seu filho. Não ache que ele encara as coisas do mesmo jeito que você -- ou como você acha que ele deveria estar encarando. Vá devagar e observe os sinais que ele lhe dá.
• Demonstre suas emoções: É bom que seu filho veja você em vários momentos, não importa que tipo de emoção você esteja sentindo. Demonstre prazer e sorria ao falar com ele. Deixe as lágrimas escorrerem e fale sobre tristeza, se se sentir triste. Seu filho precisa começar a entender as emoções para poder saber expressar as dele.
• Não se ofenda com o comportamento do seu filho: Se ele rejeitar um abraço, chorar quando você pega no colo, ou até disser coisas ruins, no caso de uma criança maior, pense que ele não quer dizer isso de verdade, e sim que está usando esse meio para expressar medo, raiva, frustração e outros sentimentos negativos naturais (e que toda criança tem).
• Narre todas as suas ações: Seu filho estava tirando uma soneca à tarde, e você entra no quarto ao ver que ele acordou. Pode então dizer: "Oi, como foi seu soninho? Vamos trocar de roupa que a gente vai dar um passeio gostoso. Você é um menino muito lindo! Vamos tomar um lanchinho antes de sair?". Seu filho precisa associar os seus cuidados e o seu carinho à sua voz.
• Finja que seu filho está reagindo como você gostaria: Se ele olha para o outro lado na hora em que você fala com ele, continue agindo normalmente, como se ele estivesse sorrindo para você. Ponha bastante carinho na voz e mostre que você está ali, e que a cara de bravo dele não vai espantar você.
• Crie rituais e rotinas: Seu filho ficará mais calmo se souber o que vai acontecer. Isso vale para qualquer criança, mas para uma criança que foi adotada pode ser ainda mais forte, devido a mudanças inesperadas pelas quais ela pode ter passado. Veja, por exemplo, exemplos de rituais para a hora de dormir.
• Dê muito colo! Mantenha seu filho o tempo todo pertinho de você. Dê a mão, use um canguru ou sling, dance com ele, abrace, tudo o que puder. Quanto mais contato pele a pele, corpo a corpo, melhor. Quanto mais seguro seu filho se sentir agora, mais independente ele se tornará depois. Não se preocupe em mimá-lo demais, nesse começo.
CONFIE NO SEU INSTINTO MATERNO
É compreensível que uma mãe adotiva duvide do seu instinto materno, afinal todo o processo de adoção é cercado de dúvida. Você pode estar com medo de o tempo que seu filho passou longe de você ter uma má influência nele, ou então que ele cresça e queira procurar os pais biológicos, ou que haja algum problema no desenvolvimento...
Isso sem contar as incertezas em relação aos aspectos legais do processo de adoção.
Todas essas dúvidas são naturais e você não precisa se culpar por tê-las. Com o tempo, seu filho vai parecer cada vez mais seu, e você vai se sentir mais segura em relação aos seus instintos. Você vai se dar conta de que sim, você é a mãe dele, mais ninguém.
PROTEJA-SE E PREPARE-SE PARA OS MOMENTOS RUINS
Depois da euforia pela chegada do seu filho, pode ser que você tenha sentimentos contraditórios. Existe até uma forma de depressão pós-adoção. Depois de sonhar por tanto tempo com uma coisa, é compreensível que haja uma espécie de "choque" quando a realidade não é exatamente aquela imaginada (mas não necessariamente pior, só diferente!).
A vantagem de saber que isso pode acontecer é não sentir tanta culpa, porque a culpa só vai atrapalhar mais ainda a situação. Muitos pais adotivos contam que passaram por essa fase.
HÁ ALGUMAS MEDIDAS QUE VOCÊ PODE TOMAR PARA SE PRESERVAR:
• Deixe a festa pela adoção para depois, quando vocês já estiverem acostumados à vida em família. Faça apenas uma comemoração bem íntima e tranquila, com os parentes mais próximos.
• Limite o número de visitas e aceite ajuda para o resto das tarefas da casa, para ficar totalmente disponível para o seu filho, e para ter espaço para as mudanças que estão acontecendo na sua família.
• Divida as tarefas com seu companheiro(a). As mudanças práticas no dia-a-dia podem causar estresse e conflitos. Fale abertamente sobre como organizar as tarefas para que ninguém se sinta excluído ou explorado. Cuidado para não "assumir demais", sem deixar espaço para a outra pessoa participar.
• Encontre outros pais adotivos para conversar. Com pessoas que já passaram o mesmo que você, vai ser mais fácil falar sobre as dificuldades, sem ter de ouvir julgamentos como "Mas não era tudo o que você queria?" ou "Você ainda teve o caminho mais fácil, nem precisou passar pela gravidez". Pais adotivos terão menos tendência a ver você como uma espécie de "herói" que salvou uma criança, e será mais acessível falar de igual para igual.
VOCÊ É MÃE, E MÃE TAMBÉM TEM DIFICULDADES
Toda criança chora, faz birra, deixa os pais exaustos. Se você não acredita, dê uma lida nos artigos do BabyCenter sobre o choro do recém-nascido ou os ataques de fúria de crianças mais velhas.
Procure não atribuir todas as dificuldades ao fato de seu filho ter sido adotado. Vida de pai e mãe é difícil mesmo, mas as recompensas fazem tudo valer a pena.
Tente não ficar comparando seu filho a outras crianças da mesma idade. É possível que ele tenha tido menos estímulos e esteja se desenvolvendo mais devagar. Faça o acompanhamento com o pediatra, pois ele é a melhor pessoa para avaliar se há real motivo de preocupação.
Converse com outras mães e pais iguais a você no nosso fórum especial sobre adoção.
http://brasil.babycenter.com/a5400186/ado%C3%A7%C3%A3o-como-criar-um-v%C3%ADnculo-com-seu-filho

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