domingo, 5 de outubro de 2014

ADOÇÃO SOROPOSITIVA — OS DOIS LADOS DA MOEDA


Quinta-feira, 2 de outubro de 2014
A adoção é um assunto complicado, cheio de receios e dúvidas.
Aqui no Brasil, como já sabemos, o processo é lento mas muitos casais, independentemente de suas razões, aceitam enfrentar a burocracia e a longa caminhada para adotar um filho. Focando nesse assunto, resolvi direcionar essa postagem aos casais que planejam um dia fazer o mesmo e constituir uma família.
Pesquisando sobre o assunto, encontrei artigos e relatos que contam a história de dois extremos: de um lado, os pais soropositivos/sorodiscordantes que temem o preconceito e o medo do tribunal e dos próprios filhos, do outro lado, as crianças portadoras do vírus, que esperam na fila por uma família que não as rejeite ao saber de sua doença.
Prontos para embarcar no assunto?
AS CRIANÇAS
Como disse logo acima, na introdução, as crianças soropositivas são as que mais sofrem na espera de uma família mente aberta e sem preconceitos, o que sabemos que não é algo que acontece com muita facilidade. É difícil de admitir, mas é fato que a maior parte dessas crianças vão crescer, sairão do lar adotivo e tornarão-se um adulto sem família.
Em um artigo retirado deste site, descobri que a maioria das meninas e meninos portadores do HIV são adotados pelos próprios funcionários e atuantes na área da adoção. É uma curiosidade que ao mesmo tempo entristece e traz um pouco de esperança.
"Os pais que adotam (crianças com HIV) são pessoas extremamente especiais. Eu digo que quem adota é acima da média, que não vai achar dificuldade em nada, não vê obstáculos", afirma a promotora de Justiça da 2ª Vara da Infância e Juventude, Marilia Vieira Frederico Abdo.
Há instituições especializadas nesse grupo de jovens e que abrigam 50 crianças e adolescentes, duas delas ficam em Curitiba (são elas a Associação Paranaense Alegria de Viver e a Associação Curitibana dos Órfãos da Aids). Agora, acreditem se quiser, mas em 30 anos de existência, os dois abrigos contabilizaram pouco mais de 30 adoções. TRINTA ADOÇÕES.
Além da falta de informações e o completo receio desses casais, ainda há outro fator que complica mais a escolha dessas crianças: a lentidão do processo consegue ser pior do que o normal. Li o relato de um casal que tentou adotar quatro meninas soropositivas no sul do país, em 2010, e apesar de terem conseguido o direto de visitar as crianças, em dezembro daquele ano, sem nenhuma justificativa a Justiça não concedeu a guarda provisória das meninas ao casal. Pesquisei e pesquisei até encontrar alguma notícia atual e descobri o blog criado por eles -você pode acessá-lo aqui, e segundo os dados que constam lá, até os dias de hoje, quatro anos após, o casal não completou o objetivo de adoção.
Para eles, adoções de crianças fora do perfil padrão de procura deveriam ser aceleradas. "Todas as vezes que uma pessoa se interessar por uma dessas crianças a Justiça deveria das celeridade a esses processos e não pressupor que essas pessoas sejam lunáticas."
(Em contrapartida, para a nossa surpresa, descobrimos um casal gay, que conseguiu adotar três crianças com HIV com apenas um ano e meio de espera. Leia a história deles.)
Há muitos relatos por toda a internet (confira um aqui), de pais que descobriram o verdadeiro amor ao escolherem uma criança soropositiva, e o que todos os casais que sonham em ser pais devem saber é que adotar uma criança portadora do HIV não é sinônimo de assisti-la morrer ou de problemas futuros. Além de tudo, Marilia Abdo, a promotora que apareceu logo acima, garante que a carga viral baixa drasticamente quando a criança vai para uma família.
"Ela vive muito bem. Só desenvolve a Aids se tem baixa imunidade. São saudáveis, independente do HIV."
OS PAIS
Diferente de quando o papo são as crianças, tive uma certa dificuldade em encontrar qualquer coisa em relação à casais portadores que sonham em adotar um menor; o assunto é muito limitado, se você procurar no Google vai perceber.
Durante o processo de avaliação para a adoção, é requerido uma bateria de exames, incluindo atestado físico e mental, ou seja, não adianta manter o seu status escondido. A lei brasileira é clara e proíbe qualquer tipo de discriminação, mas obviamente isso não significa que estamos livres do preconceito lá fora. Pode acontecer de um juiz intolerante negar a guarda provisória da criança por causa da doença? Pode, mas isso é uma possibilidade, exatamente como acontece quando o casal é homossexual. Existem casos e casos.
[...] É prudente se prever que ainda não estamos a salvo do estigma do vírus HIV, muito vinculado ao uso de drogas, à promiscuidade sexual e até mesmo ao descaso do infectado com sua saúde. Nada, porém, que não possa ser reconstruído com a perseverança e participação segura e digna do candidato à adoção em todas as fases de entrevistas e pesquisa.
Como vimos acima, a decisão de adotar uma pessoa pode te levar à uma grande jornada (tanto de vida quanto de espera, fato!), ao mesmo tempo não podemos prever se o adotando será uma criança fácil de lidar ou/e se o relacionamento vai deslanchar (não se desespere se você viu A Orfã ou Caso 39, aquilo é ficção, pode ficar tranquilo); acredito que seja mais uma das aventuras que os pais irão correr ao tomar essa importante decisão.
Já há algum tempo desde que estou com o Gabriel e já conversamos sobre o assunto e para a minha felicidade, fomos unânimes em concordar um com outro: queremos adotar mais de três picurruchinhos para a nossa vida futura. Você compartilha do mesmo desejo?
http://casalsorodiscordante.blogspot.com.br/2014/10/adocao-soropositiva-os-dois-lados-da.html#more

Nenhum comentário: