terça-feira, 14 de outubro de 2014

FILA DE ADOÇÃO EM NITERÓI TEVE 71 PROCESSOS INICIADOS ESTE ANO


12/10/2014
Por O Globo
Outras 11 crianças já estão aptas a encontrarem uma nova família
"Foi amor à primeira vista!” É desta forma que a comerciante Christine de Souza Faria, de 55 anos, moradora de Icaraí, resume o encontro com o menino João Victor, de 9 anos, que ela adotou em 2013. Christine sempre nutriu o desejo de ter um filho ou adotar uma criança e, meses após buscar informações sobre o processo de adoção, recebeu uma ligação da psicóloga da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso de Niterói. Pelo telefone, o convite para conhecer o menino no Lar da Criança, em Ititioca, instituição que acolhe jovens encaminhados pelo Conselho Tutelar e pela Justiça.
— No início do processo, eu preenchi uma ficha com meus dados pessoais e informações sobre o perfil e as características da criança que eu gostaria de adotar, tipo cor, idade, sexo. Também fiz um curso obrigatório para quem quer adotar uma criança. Foi quando recebi a ligação para conhecer o João Victor. Em minutos, parecia que ele sempre fez parte da minha vida. Ele é um grande presente da vida para mim — enfatiza Christine.
O curso que a comerciante fez é oferecido, em Niterói, pela associação civil Quintal de Ana. Além de gratuito, ele é obrigatório para quem quer adotar crianças na cidade. Somente este ano, cerca de 200 pessoas frequentaram as aulas, que acontecem duas vezes por semana, à noite. Por sua vez, a Vara de Infância e Juventude e Idoso registrou, de janeiro a agosto, 71 casos que estão em fase de adoção em Niterói.
O número deve crescer até o fim do ano. De acordo com o Quintal de Ana, mais 11 crianças e adolescentes estavam disponíveis legalmente para adoção no início deste mês. Eles estão entre os 91 que vivem nos oito abrigos espalhados pela cidade.
— Niterói conta com uma força-tarefa, fruto de uma parceria entre o Quintal de Ana e o Poder Judiciário, para apoiar e orientar pretendentes e desenvolver ações de estímulo às adoções e ao apadrinhamento afetivo — afirma Bárbara Toledo, fundadora da associação.
No estado do Rio, a procura de pais pela adoção também é maior do que o número de crianças na fila de espera por uma família. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), havia 392 crianças, de 1 a 17 anos, disponíveis para adoção no mês passado. Deste total, 220 eram meninos e 172 meninas. Ao todo, 2.512 procuraram a Justiça para adotar um filho.
— Se alguém disser que adotar uma criança aqui no Rio é um processo lento, está mentindo. Em um mês, ou em um mês e meio, eu concedo a guarda provisória para os candidatos à adoção e, muitas vezes, em menos de um ano a adoção é definitiva — afirma o juiz Pedro Henrique Alves, titular da Vara de Infância e Juventude e Idoso.
PROCURA MAIOR POR CRIANÇAS DE ATÉ 2 ANOS
Ao tirar provisoriamente a guarda de uma criança, a primeira medida tomada pela Vara de Infância e Juventude e Idoso é tentar recolocá-la de volta ao lar. Para isso, um conselheiro tutelar é designado para acompanhar a situação. Se o retorno se mostrar impossível e outros familiares não tiverem condições de assumir a criação, a criança é então encaminhada a uma casa de acolhimento e, em seguida, entra na fila da adoção.
— O problema é que a maioria das pessoas quer um bebê branco, com no máximo 2 anos de idade e, de preferência, menina. Enquanto isso, as crianças de maior idade são preteridas. Se não houvesse a exigência deste perfil, o número de adoções seria muito mais alto — explica o juiz.
Não foi o caso de Christine, que se identificou com João Victor logo no primeiro contato. Ao lembrar o encontro, ela mal consegue falar. Para, respira fundo, prende o choro. Sua voz ganha outro ritmo, fica pausada, antes de ela conseguir prosseguir a narrativa:
— Perguntei a ele algumas coisas, como a cor preferida, e descobri que era liás, a mesma que a minha. Ele falou que sonhava em passear de navio e na hora lembrei que o “avô” dele é da Marinha Mercante. Era o destino, eu não estava ali à toa. Enfim, no momento que o conheci vi que tínhamos muitas afinidades. Ele é lindo, é a minha cara. Se fizer DNA vai provar que é meu filho.
Em dezembro de 2013, cinco meses após o primeiro encontro, o menino trocou o abrigo pelo apartamento na Zona Sul de Niterói, onde passou o Natal com a nova família. Para Christine, o apoio da equipe da Vara de Infância e Juventude e Idoso foi fundamental para o sucesso do processo adotivo.
— Chegou um momento na vida em que eu não podia mais adiar a maternidade. Busquei muito isso. E o juiz foi uma pessoa muito bacana, atencioso, sensível ao meu sentimento de mãe e resolveu tudo rapidamente, sem burocracias — elogia Christine, enquanto acaricia o menino, que não sai de perto dela durante a entrevista. — Hoje, o João é muito feliz, carinhoso, cursa o 3º ano num bom colégio, faz aulas de judô e fonoaudióloga. Ele está muito bem, e é só isso que me interessa.
Quem também vibra com os resultados positivos da adoção é o jornalista Jorge Luiz Brasil. Junto do farmacêutico Walter Pereira do Patrocínio, seu companheiro há duas décadas, eles realizaram o desejo de adotar uma criança este ano. O sonho foi realizado em abril, com a chegada de Arthur, de 6 anos.
— Sempre gostei de criança e, desde pequeno, sonhava em ter um filho. O Walter também tinha essa vontade. Então, nós procuramos a Vara de Infância e nos orientaram a fazer o cadastro na fila para adoção. Tivemos a felicidade de encontrar o Arthur no Cadastro Nacional de Adoção — conta Jorge Luiz.
Assim que descobriram o menino no cadastro, que é mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os dois foram até Natal, no Rio Grande do Norte, conhecê-lo.
— Antes de viajarmos, trocamos fotos por e-mail e fizemos reuniões pela webcam com o Arthur e os cuidadores do orfanato onde ele morava — conta o jornalista.
Este mês, Arthur completa seis meses na nova casa, sem o desejo de retornar à vida antiga. Em Niterói, o menino se acostumou a ir à praia, ao cinema, ao teatro e a restaurantes com os pais. No último dia 10, ganhou uma festa surpresa pelo aniversário de 7 anos, o primeiro com nova família. Jorge e Walter organizaram a comemoração na escola.
— Quando estivemos em Natal, levamos Arthur para passear de bugre. Foi a primeira vez que ele fez um passeio daqueles. Ele teve não teve uma infância feliz e isso refletiu um pouco nos primeiros meses que veio morar conosco, mas hoje ele já está adaptado, é uma criança feliz, amada — comemora Jorge Luiz. — E nós nos demos esse presente, que é a adoção.
http://oglobo.globo.com/rio/bairros/fila-de-adocao-em-niteroi-teve-71-processos-iniciados-este-ano-14217162

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