segunda-feira, 6 de outubro de 2014

RETRATO DE FAMÍLIA


Sábado, 04.10.14
Gosto muito de ver/ler blogues familiares as suas peripécias, histórias, aventuras e tudo isto detalhadamente acompanhado com imensas fotografias. Já dizia o João Miguel Tavares a propósito da privacidade das famílias:
«Mas deixem-me dizer só mais uma coisa em relação à “vida privada” e ao facto de eu não dever estar a contar isto num blogue”. Este blogue nasceu por várias razões, e uma das principais - digamos que está no top 3 das razões decisivas - tem a ver com um combate, chamem-lhe missionário, se quiserem, contra o desaparecimento das crianças - e, por arrasto, da família - do espaço público. Não gosto de viver num mundo de crianças com caras pixelizadas, a não ser por razões óbvias (se foram abusadas, por exemplo). Esse desaparecimento faz parte de uma mesma cultura securitária que, paradoxalmente, empurra os mais pequenos para a sombra na civilização de todos os holofotes.»
Já li este texto há dias e continuo a pensar nele. Noto a cada dia que passa que vivemos com medo, medo de tudo o que ouvimos na rádio, na televisão, coisas que se passaram do outro lado do mundo, coisas que se passaram uma única vez...
Vivi também eu durante algum tempo com medo, medo de que a progenitora da Gui um dia me aparecesse por aqui para arranjar confusão, digamos que naquele dia em que nos cruzámos no tribunal a coisa ferveu e eu nada fiz, além da gravidez, estava avisada para não responder a provocações, mas o que me apetecia era mesmo dar-lhe uma carga de porrada daquelas mesmo grandes, enormes... se lessem os papeis do tribunal em que estava lá preto no branco o que acontecia naquela família podem crer que não me iriam criticar, e eu sou uma pessoa muito pacífica, a sério que sim.
Passado algum tempo resolvi pensar de outra forma: eu vivo como eu quero e não tenho de estar cá com medos. Erro crasso, erro grande, enorme, gigante...
Em Maio deste ano recebi uma ameaça através de uma mensagem no facebook, aquela mulher desgraçada achou a minha página do facebook, como não sei, mas achou... deve ter ficado chocada com as duas ou três fotos que lá tinha das minhas filhas com sorrisos de orelha a orelha! Eu, por cá fiquei completamente desorientada, andei durante a hora de almoço à volta aqui dos quarteirões para desanuviar e resolvi parar na GNR, expliquei o caso e garantiram-me que teria sempre apoio caso a dita senhora aqui aparecesse, mas o meu medo não era por mim, pois sou mais alta e mais gorda do que ela, posso bem dar-lhe um par de estalos, o meu medo era pela Gui, pelo regresso das memórias antigas, dos receios e do estado "alerta" em que vivia nos últimos dias antes de vir para nossa casa.
Andei a investigar através do facebook e descobri onde a mulher estava a morar, ou seja, usei a mesma arma dela para me situar, está bastante longe e ainda bem. Contámos à Gui e explicámos que ela nunca deixaria de ser nossa filha e que não devia ter medo, fui à escola e contei à diretora, e nunca respondi à mensagem, nem responderei, apenas lhe dou o desprezo que merece. Ainda vivi atormentada durante uns tempos, depois foi passando a pouco e pouco, entretanto inspirada pela Teresa comecei este blogue para contar a minha história e partilhar as nossas aventuras familiares, deixei o facebook (o que me custou, mas também não morri por causa disso) e assim continuo a minha vida. Se me apetece colocar aqui fotos nossas? Muito, até porque as minhas filhas são as mais lindas do mundo (ok, a seguir vêm os vossos) Mas por enquanto vamos continuar assim, mas um dia ganharei coragem e quando aqui chegarem terão um verdadeiro retrato de família, por enquanto fica este!
http://adotaramarviver.blogs.sapo.pt/retrato-de-familia-38361

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