terça-feira, 4 de novembro de 2014

ABRIR A VIDA A MAIS UM


Sábado, 1 de Novembro de 2014
Manuela Parente
A adoção não é a alternativa, mas uma outra forma de dar luz a uma vontade de continuar vivo com o outro
Decidir ter um filho é crescer com o coração, imaginar uma vida partilhada, para sempre, com um enorme respeito pela liberdade de ser. Caminhar ao lado, com a mão pronta a agarrar se a outra tocar de leve…
Ler o olhar e conter as lágrimas num sorriso forte, brigar com alma num momento e abraçar fundo no seguinte.
Seguir em frente, suportando a vontade de olhar para trás, revisitar memórias, medos, intuições, trocar de vida por um segundo e enternecer na volta.
A continuidade da espécie, da família, o sangue comum, a genética, a vontade de prosseguir no outro, a existência absoluta, a imortalidade criam laços profundos na decisão.
A vontade de sentir a vida por dentro é uma possibilidade no feminino que cada vez mais ganha contornos no masculino, hoje já se ouve “engravidamos” ao invés de “engravidei”.
Assim a impossibilidade de ter um filho biológico surge, em alguns casos, como o fim de um ciclo, a interrupção de um sonho, o fim de uma história.
A desilusão, o fracasso, a impotência, a raiva, o medo, a vergonha, o temor do fim do ciclo são sentimentos comuns que invadem ambos os elementos do casal que muitas vezes em silêncio escondem a sua dor encapsulada.
Se hoje a ciência oferece respostas a esta impossibilidade não garante, contudo resultados sem margem para falhas. Claro que cada vez mais as percentagens de sucesso aumentam o que facilita a opção.
A adoção não é a alternativa, mas uma outra forma de dar luz a uma vontade de continuar vivo com o outro.
O prazer do colinho ternurento, as canções de embalar, o sorriso inesquecível, a palavra mãe e pai, a experiência do amor incondicional, e tantas, tantas coisas mais, estão presentes na adoção.
São tantas as crianças à espera de uma família com vontade de as amar e tantas famílias à espera de uma criança para amar.
Este laço, que se constrói na relação de todos os dias, dispensa o sangue e a genética, mas não dispensa a entrega nem a dedicação mútua.
A adoção também permite engravidar. “Engravidamos” é o início de um ciclo de sonhos e ideias, pensar a dois, a três ou a quatro, abrir a vida a mais um.
Filho adotivo não cresce na barriga mas sim no coração tal e qual como a gravidez no masculino.
http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/478320-abrir-a-vida-a-mais-um

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