quinta-feira, 13 de novembro de 2014

CERTEZAS E INCERTEZAS NA ADOÇÃO


12.112014
Dr. Alfredo Casto Neto
Não existe “adoção garantida”; as incertezas são muitas, mas precisam ser aceitas.
A adoção de uma criança é assunto muito delicado. Um casal não deve nunca tomar essa decisão sem antes examinar os motivos que o levam a agir assim.
Os adotantes devem ser pessoas emocional e intelectualmente maduras, para que um filho adotivo não seja meio inadequado de resolver problema.
A adoção, em nossa sociedade, deveria visar diretamente às necessidades físicas e emocionais da criança. Atualmente, porém, o grande problema é que ainda se procuram crianças para pais sem filhos, ao invés de se procurar pais para crianças que não os têm.
Na verdade, numerosos problemas emocionais na criança adotada têm como base um total desprezo emocional dos adotantes.
Veja dois relatos.
“Quando os médicos constataram que eu era estéril, inúmeros problemas surgiram. Meu marido constantemente me culpava, brigávamos muito, ele chegou várias vezes a abandonar o lar. Daí, a única solução foi adotarmos uma criança”.
“Perdi meu filho único num desastre de automóvel. Ele era uma criança exemplar. Fiquei terrivelmente abalada. Após alguns meses, justamente próximo à data de seu aniversário, adotei um menino que até hoje só me dá aborrecimento, pois é muito brigão, vive dizendo palavrões e não quer ir à escola”.
No primeiro caso, o filho era uma espécie de salva-vidas para o desajuste conjugal. No caso da mãe que perdeu o filho único, o que vimos foi a busca de criança substituta do filho morto. A mãe adotiva queria um símbolo do desaparecido, daí sua agressão inconsciente quando verificou que a criança adotada não correspondia exatamente ao filho verdadeiro – “um garoto exemplar”. Trata-se de luto não elaborado.
Infelizmente, a avaliação dos futuros pais adotivos é, muitas vezes, irrelevante.
Creio que não são suficientes sinais externos de respeitabilidade, higiene física, nível de renda e número de pessoas por metro cúbico de ar. O mais importante é avaliar os motivos reais que estão por trás do desejo da mãe de adotar um bebê. Estes motivos, em geral não são o que aparentam: sua verdadeira natureza pode ser, em grande parte, ignorada pela própria mulher.
A capacidade de enfrentar dificuldades com coragem e de refletir com sensatez sobre a melhor maneira de lidar com elas é indispensável para os pais adotivos, pois é essencial para eles a capacidade de assumir alguns riscos, assim como o é para pais biológicos. A questão não é saber se podemos ou não atender com segurança às necessidades deles quando a criança é ainda um bebê. Isto é evidentemente impossível. O importante é saber como eles reagiriam diante de uma decepção e se poderiam, ainda assim, funcionar como pais afetuosos, satisfeitos em sua paternidade. Não existe, infelizmente, o que se possa chamar de “adoção garantida”; não existe criança que a agência possa carimbar com segurança: “garantida”.
É vital que os pais, portanto, estejam preparados para aceitar uma criança, que possa ou não atender a suas expectativas e desejos.
A adoção é assunto complexo e polêmico, girando em torno dela mistério, omissão e até mesmo mentira, supostamente “piedosa”. Creio que a flexibilidade e a capacidade de encarar a verdade são qualidades nitidamente desejáveis para que os pais possam falar à criança sobre sua adoção, prática esta que todos consideram essencial, pois mais cedo ou mais tarde a criança descobrirá a verdade.
Na adoção adequada nem a criança precisa exigir que o casal adotante seja melhor que aquele que lhe gerou, nem os pais adotivos necessitam que a criança adotada lhes proporcione mais satisfações do que um filho verdadeiro.
Quando os pais não informam à criança sua condição de adotada, a descoberta pode ser extremamente penosa para ela, devido ao fato de sentir-se traída pelos pais adotivos, além de abandonada pelos pais biológicos. Deve ser evitado, portanto, a todo custo, que a criança seja invadida por dúvidas sobre sua origem e sobre seus pais biológicos: da dúvida nasce a fantasia e a angústia.
A verdade deve ser continuamente insinuada enquanto a criança é de baixa idade e, logo, exposta com mais clareza. A mãe deve valorizar a adoção no sentido de fazer ver à criança que ela foi escolhida entre muitas outras por tais ou quais qualidades. A melhor idade para esclarecer sobre a adoção é difícil definir, porém deve-se fazê-lo de preferência por volta dos quatro ou cinco anos. Quero deixar bem claro, porém, que, embora o precoce estabelecimento da verdade possa abrandar os conflitos internos e de relacionamento com os pais adotivos, isto não diminui o obstinado anseio do adotado em conhecer suas origens. Outro problema é que algumas crianças adotadas podem por à prova seus pais adotivos a fim de reafirmar sua própria condição e terem a garantia de serem queridas.
Às vezes a criança adotada poderá usar seu status de “adotada” como desculpa para desafiar os valores dos pais adotivos e suas normas. Alguns pais adotivos podem, por sua vez, relacionar as características indesejáveis da criança à sua suposta ascendência biológica e hereditária, reforçando assim o desejo da criança de identificação com os pais ausentes.
Finalmente precisamos compreender que as incertezas com a adoção são muitas, mas precisamos aceitá-las. Por esta razão a coincidência entre as expectativas dos pais e o desenvolvimento do bebê é mais um desejo do que uma realidade. Mas se pensarmos bem, todas as crianças podem representar muitas incertezas.
http://www.redega.net/…/certezas-e-incertezas-na-ado%C3%A7%…

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