quinta-feira, 6 de novembro de 2014

FAMÍLIA DE CRIANÇA ABANDONADA PELA MÃE JUSTIFICA O ATO E SE UNE PARA TER A GUARDA DA MENINA


05/11/2014
Desesperada, família apela: "queremos criar nossa neta"


O apelo parte do agricultor José Bispo Neto,52 anos, e de sua esposa Rosa Macedo Souza, 50, funcionária pública. E é reforçado por Marina da Silva Lara, 51, pescadora profissional. O casal é pai de Viviane Bispo de Souza, de 29 anos. Marina é mãe de Josmar Lara da Costa, também de 29 anos.
Viviane e Josmar tem quatro filhos. Uma menina sete anos, um menino de seis e outro menino de dois. E a pequena Maria Vitória, que nesta quinta, 6, completa sete meses e está num lar provisório.
Ela nasceu de parto natural, no banheiro da casa da família, por volta das 20 horas do dia 06 de abril. Josmar estava no trabalho. Viviane escondeu a filha dentro do carro. Pela manhã, disse ao marido que iria ao mercado, saiu sem rumo, e acabou deixando a menina em um terreno, não longe de onde morava, nas proximidades do Parque de Exposições.
Era uma segunda-feira. Na quarta-feira Viviane foi localizada pela polícia. Ela se recorda de que, no momento que depositou a criança, embrulhada em uma toalha, no chão de um lote, passavam dois rapazes adolescentes que iam para a escola.
"Eu não conseguia pensar. Queria ter ido procurar minha cunhada, ou minha mãe, mas não consegui".
Viviane e Josmar planejaram dois filhos. A terceira gravidez só foi comunicada ao marido no quinto mês de gestação. Ele então disse à esposa que não queria ter mais filhos. Mas ela engravidou e escondeu a gravidez de todos, inclusive das colegas de trabalho na boutique onde é empregada e está afastada para tratamento médico.
Josmar trabalha como técnico em informática e só soube do nascimento da filha e de todos os fatos ao ser chamado na Delegacia da Mulher, onde a esposa já se encontrava. Na noite que a filha nasceu, ele trabalhou até 1:30 da manhã e não percebeu nada diferente ao chegar em casa.
A menininha foi encontrada por uma moradora próxima ao lote, que ouviu seu choro. Ficou hospitalizada por três dias, foi encaminhada para a Casa da Criança, e, no mesmo dia, entregue ao casal que encabeçava a lista para adoção. O casal tem a guarda provisória da criança.
Os outros três filhos do casal estão com os avós maternos, que estão com a guarda de fato dos netos e reivindicam a guarda oficial desses três netos e da neta, que nem sequer conhecem. Eles moram em um sítio no Distrito de Vila Aparecida. Chorando, Rosa Macedo diz que cuida com desvelo dos netos. "Mas eles pedem a mãe e perguntam que dia que a irmãzinha vai chegar, pois recebemos orientação psicológica para ir contando a eles que a irmã existe. Não somos ricos, mas nada nos falta. E amor pra dar a eles é o que mais temos. Queremos conhecer nossa neta, cuidar dela, queremos que ela cresça ao lado de seus irmão. Minha filha está em tratamento de saúde. Ela sempre foi uma ótima mãe. Mesmo não entendendo, sabemos que ela teve um bloqueio, um problema emocional muito sério, que a levou a deixar a filhinha. Ela nunca quis matar a filha. Se quisesse isso, teria feito um aborto. Ela cuidou da menina durante a noite e a deixou num local onde saberia que seria encontrada e salva".
A sogra de Viviane também diz a mesma coisa. "Quando eu soube, disse que ela estava doente. Só poderia estar. Sempre foi boa esposa e boa mãe".
Josmar chorou muito durante a entrevista. Ele afirma que nunca imaginou que uma frase, dita num momento de raiva, pudesse ocasionar tamanha tragédia. "Jamais rejeitaria minha filha".
O casal desfez a casa, onde residia com os filhos, e mora numa quitinete. Viviane tem acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e toma remédios. Conta que sua rotina se resume a imaginar como a filha está, como ela é. Diz também estar ciente da dificuldade de ter a filha, ou os quatro filhos, de volta, "mas sabendo que estão com meus pais, me tranquilizo. Já respondo criminalmente pelo meu ato, já fui julgada por toda a sociedade, e me sinto pré-julgada pela justiça. Nunca nos ouviram. Foi marcada uma audiência no Conselho Tutelar. Quando chegamos, informaram que a audiência seria no fórum da comarca. Ficamos lá-eu e toda minha família- por cinco horas e ninguém nos ouviu. Neste mesmo dia Vitória foi entregue ao casal. A única coisa que quero é ficar curada e ver meus filhos crescendo juntos".
Os advogados da família, Maria Alice Campos Mensch e Valdiney da Silva, alegaram a impossibilidade de se pronunciar, pois o processo corre em segredo de justiça. A mesma afirmação foi feita pela juíza Leilamar Aparecida Rodrigues, da 1ª Vara Cível, que se limitou a dizer que o processo está tramitando normalmente. O promotor de justiça do caso, Jaime Romaquelli, também disse a mesma coisa.
Viviane segue em tratamento psicológico e psiquiátrico, feito de forma particular e pago por ela. Está na fila do SUS para fazer uma laqueadura. Entende que sofreu um grave trauma pré e pós parto. O laudo psicológico do profissional que faz seu acompanhamento afirma que ela chegou à primeira sessão com inquietação, profunda tristeza e ansiedade.
Pela avaliação, ela estava com depressão grave e ansiedade moderada. Já foram feitas 12 sessões e em todas a paciente demonstra muito arrependimento, não sabendo falar o motivo de sua atitude.
O transtorno Depressivo Maior, diagnosticado em Viviane, é caracterizado por um período de humor triste, vazio e irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas "que afetam signifcativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo" (APA,2014-Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais.)
A paciente e seus familiares relatam que essas características vinham sendo percebidas, ainda no período gestacional, o que pode contribuir com a hipótese de depressão pré e pós parto, e os fatos podem ter sido decorrentes deste transtorno.
"Eu queria contar e não conseguia-diz a mãe biológica de Maria Vitória-tinha medo que não aceitassem minha gravidez. Quando me perguntavam, eu dizia que estava só engordando". Viviane é cheia de corpo, o que facilitou que prosseguisse com a mentira.
Sua sogra, Marina, diz que vai lutar com todas as suas forças. "Queremos minha neta. Nossa família sempre foi unida. Não podemos aceitar quietos que nossa família seja assim destruída. Mesmo com minha pouca instrução, entendi desde o princípio que Viviane estava doente e precisava de cuidados. A Justiça tem que andar e decidir, pois se não tivermos nossa neta, vamos prosseguir nossa luta para reverter a situação, por isso procuramos a imprensa, para que sejamos ouvidos, para que todos aqueles que criticaram e crucificaram a minha nora, entendam o que de fato de passou e saibam do nosso sofrimento".
A família diz ainda que apesar do pouco conhecimento, procuraram ajuda e tem conhecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que em seu artigo 25, diz:
" Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) ". Esses somos nós -dizem. Nós, os avós. Todos nós, que queremos a Maria Vitória no seio de nossa família, e para isso lutaremos até o fim
Maria Vitória teve um registro de nascimento feito sub-judice, onde não consta nome dos pais.

fonte: Diário de Cáceres/Clarice Navarro
http://www.diariodecaceres.com.br/exibir.php?noticia=9984


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