domingo, 18 de janeiro de 2015

ADOÇÃO TEMPORÁRIA DE NATAL TRAZ CONFORTO E ALEGRIA PARA IRMÃOS


31/12/14
Sorocaba
Presentes de Natal, ceia e uma cama boa para dormir em uma casa diferente, mas habitada por pessoas boas. Assim, está sendo, até esta sexta-feira, os momentos natalinos de dois irmãos: ela, com dez anos, e ele, com quatro anos. Crianças que foram retiradas dos pais por sofrerem violência doméstica. Chegaram à Casa de Belém, em Votorantim, há quinze dias, e a história delas ainda não é tão bem conhecida. Independente da situação pela qual vêm passando, pelo menos, entre quarta-feira, véspera do Natal, e nesta sexta-feira, elas dividem a alegria deste Natal com a família Leite. O contabilista aposentado Luiz Roberto Leite, de 61 anos, e a esposa Maria Aparecida Santos Leite, de 59 anos, a Cida, frequentam a entidade há quinze anos, época em que decidiram adotar uma criança que havia sido abandonada pelos pais e passou a morar, desde bebê, na Casa de Belém. O casal Leite tem orgulho em dizer que, hoje, tem duas filhas maravilhosas: Marília, com 27 anos, filha biológica, e Solange, com 16 anos, filha do coração. "Nosso amor pelas duas é igual, e a Marília sempre quis uma irmã", lembra Cida. Foi assim que começou a relação do casal com a Casa de Belém.
Nesta quarta-feira, a família foi até a entidade para levar os irmãos para casa. Nesta quinta-feira, dia do Natal, a reportagem esteve na casa da família, em um condomínio fechado situado na zona norte de Sorocaba para conhecer as crianças. Sentada no degrau de entrada, ao lado de Solange, a menina comia batata palha e ouvia músicas no celular. Na rua, o irmão brincava com um patinete na companhia de Cristiano, noivo de Marília. Ao estacionar o carro na frente da casa, o motorista Marcelo, do jornal, foi surpreendido pelo garoto que abriu a porta do lado do passageiro, sentou no banco e começou a mexer nos botões e comandos do carro, já que é um apaixonado por automóveis. O menino sofre de algum problema mental que ainda não foi diagnosticado. "Mas é um garoto ativo e bonzinho", comenta Luiz. O tempo todo queria tomar banho e era atendido por Marília.
Dentro da casa, havia uma pequena caixa com vários carrinhos e um carrinho pedagógico dados de presente ao menino. A irmã, timidamente, entrou na casa e foi para um dos quarto com Solange. Cida afirmou que nem ela nem o marido fazem parte da diretoria, são voluntários e, segundo ela, o objetivo deles é dar alegria às crianças da Casa e cuidar delas. "Entendemos ser uma forma de a gente ajudar a instituição, de dar alguns momentos de alegria para as crianças e, ao mesmo tempo, uma folga aos funcionários da Casa", ressalta.
Esse amor pelas crianças vítimas de situações diversas de abandono foi despertado por Cida e Marília, época em que elas dedicavam boa parte do tempo montando kits com sabonete, pasta de dente e pente colocados em uma bolsa feita em tactel, tecido bastante utilizado no segmento esportivo, para entregá-los aos idosos das entidades que assistem essas pessoas. A família morava em Votorantim. Foi então que Marília, ainda com 11 anos, sugeriu à mãe conhecer a Casa de Belém. A mãe topou e, a partir daí, o casal Leite não parou mais de visitar a instituição que, à época, era presidida pelo ex-prefeito da cidade, Carlos Augusto Pivetta (PT). Hoje, a instituição é presidida por Susana Pivetta, esposa do ex-prefeito. Na ocasião, havia cerca de trinta crianças morando na Casa; atualmente, há apenas cinco.
ADOÇÃO ACONTECEU
O casal não pretende mais adotar um filho. Cida diz não ter mais idade para isso, enquanto Luiz recompõe a emoção dizendo que nunca programaram nada, nem mesmo a possibilidade de adotar Solange: "As coisas vão acontecendo, simplesmente isso". Há quinze anos, quando o casal esteve na Casa de Belém, conheceram a adolescente, ainda com um ano de idade. "Ela veio engatinhando, enroscou-se na perna do Luiz e deitou debaixo dos braços dele. Foi algo assim... inexplicável; parece que ela estava ali para nós", afirma Cida, emocionada. Por mais de um ano, conviveram com a menina, ela, ainda, morando na Casa.
Em 6 de abril de 2000, próximo do aniversário de Solange, o casal conseguiu a adoção efetiva pela Justiça. "Fizemos tudo dentro da lei e indicamos para a assistente social Solange. Foi um presente que a juíza nos deu, eu disse isso para ela", conta Cida. No dia 10 daquele ano, Solange completou dois anos ao lado da sua nova família. Ela conhece a história dela e agora quer conhecer também a mãe biológica. "Estamos trabalhando para isso, mas por enquanto não encontramos a mãe", relata Cida. Solange é de Votorantim, mas nasceu em Sorocaba. Marília, que em breve se casará, disse que quer gerar filhos, pelos menos dois, mas tem a pretensão de adotar um filho, seguindo os passos dos pais.
Ao longo de todo esse tempo, o casal vivenciou muitas histórias, como a de Caio, que antes era chamado de Tiago, que acabou sendo adotado por outra família. "Nós éramos apegados a ele, mas não dava para nós adotarmos. Mas, graças a Deus, ele hoje tem uma família e está muito bem", diz Cida, que conhece a família de Caio e visita-o quando é possível. Outra criança a quem foram apegados é Miriam, hoje com 27 anos. Ela, ao contrário das outras, passou a infância e a adolescência na entidade, onde mora até hoje.
Luiz e Cida conhecem as crianças que passam pela Casa de Belém, assim como conhecem a realidade da instituição que gasta, por mês, algo em torno de R$ 15 mil. A Prefeitura de Votorantim repassa mensalmente R$ 5 mil, a diferença é compensada em eventos, como almoços e jantares. A Casa de Belém hoje fica próxima ao Hospital Santo Antônio e, embora precise de algumas reformas, oferece qualidade de moradia às crianças que, por alguma razão, acabam chegando por lá.
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