segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FAMÍLIAS DÃO UM LAR A QUEM NÃO TEM


15/01/15
Cinthia Milanez
Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora permite que crianças e adolescentes em alguma situação de perigo conquistem um lar provisório
A dona de casa Katia Regina da Silva Campos, 45 anos, chegou a cuidar de 25 crianças, mas não foram todas de uma vez só. Ela está cadastrada no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora desde 2011, quando a iniciativa foi implantada em Bauru após uma reforma no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De lá até agora, 76 crianças afastadas do convívio familiar por alguma situação de risco já foram acolhidas.
O objetivo do serviço é permitir que crianças e adolescentes tenham a possibilidade de conviver em um ambiente familiar sadio. Mas não é só isso o que conta. A iniciativa oferece às famílias a oportunidade de ajudar quem precisa, mesmo que de forma temporária. “Só de pensar que estou contribuindo para diminuir o sofrimento de uma criança abandonada ou vítima de maus-tratos, já faz valer a pena”, confessa Katia Regina da Silva Campos.
Mas o que leva uma pessoa a cuidar destes pequenos e depois vê-los partindo para as famílias de origem, a adoção ou, em último caso, os abrigos? Katia tem a resposta na ponta da língua: amor ao próximo. Este sentimento foi adquirido por meio da experiência de vida da dona de casa, que coleciona histórias emocionantes.
Katia também foi vítima de abandono. Quando nasceu, a mãe a deixou ainda na maternidade. Ela era um bebê prematuro, que foi criado com muito amor e carinho por uma tia paterna. O tempo passou e a dona de casa resolveu ter a própria família. Ela se casou e teve quatro filhos, sendo que um dos bebês morreu ao cair do berçário e outro veio a óbito ainda dentro da barriga dela, aos oito meses e meio de gestação.
Hoje, Katia cuida das duas filhas biológicas e três crianças acolhidas: um bebê de apenas 1 mês (abandonado ainda na maternidade), uma criança de 1 ano e 2 meses (também abandonada pela mãe) e uma adolescente de 13 anos (ficou grávida após ser abusada por um tio). “Cuido deles como cuido das minhas filhas biológicas”, reitera a dona de casa, com os olhos marejados.
ACOLHEDORES
Katia não é a única que “dá o sangue” para cuidar das crianças até que a situação delas seja resolvida de forma definitiva. Em Bauru, existem outras 11 famílias cadastradas na iniciativa, sendo sete ativas (contando com a família de Katia) e cinco de apoio (estão cadastradas, mas optaram por auxiliar as famílias ativas ao invés de acolher os pequenos em casa).
Os acolhedores recebem apoio de profissionais, como psicólogos e assistentes sociais, da Fundação Toledo (Fundato) e da Associação Comunitária São Francisco de Assis (Acop), entidades que são conveniadas com a Prefeitura Municipal de Bauru e executam o serviço sob o monitoramento da administração pública e da Promotoria da Infância e Juventude.
De acordo com a titular da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes), Darlene Tendolo, a iniciativa atende pessoas de 0 a 18 anos, mas a grande maioria é composta por recém-nascidos. “Muitas vezes, mães que têm dependência psicoativa abandonam os bebês ainda na maternidade”, pontua a secretária.
Desde o início do serviço, 76 crianças foram acolhidas, sendo que 66 se desligaram da iniciativa (8 foram transferidas para abrigos, 28 retornaram para as famílias de origem e 30 foram adotadas). Como o tempo médio de estadia na casa das famílias é de seis meses, muitas crianças acolhidas em um ano entram para as estatísticas do ano seguinte, como consta na ilustração.
SERVIÇO ABRIRÁ MAIS VAGA AGORA EM 2015
Desde 2011, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora oferece 10 vagas mensais. Contudo, neste ano, serão 30 lugares, sendo 15 destinados a cada instituição. De acordo com a titular da Sebes, Darlene Tendolo, a prefeitura investe mais de R$ 500 mil por ano para que a iniciativa seja colocada em prática. Em 2015, com a adesão de uma segunda entidade, a Acop, o investimento será de mais de R$ 1 milhão.
O que falta agora é encontrar mais acolhedores, uma vez que as 12 famílias cadastradas atualmente chegam a abrigar mais do que uma criança, como no caso da dona de casa Katia Regina da Silva Campos. Os membros das duas entidades envolvidas afirmam que o recomendado seria que houvesse de 15 a 20 famílias ativas para conseguir atender toda a demanda prevista para 2015.
SERVIÇO
Para aqueles que desejarem fazer parte da iniciativa como famílias acolhedoras, cujos requisitos necessários para o cadastramento constam na ilustração, basta ir até a sede da Sebes, localizada na quadra 1 da rua Alfredo Maia, na Vila Falcão, em Bauru, a partir da próxima segunda-feira. O órgão funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.
O QUE DIZ O ECA?
Em 2009, o Estatuto da Criança do Adolescente (ECA) sofreu uma reforma que exigiu que “a inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcional da medida”. Para que a legislação fosse cumprida, o promotor da Infância e Juventude, Lucas Pimentel, começou a cobrar o município em 2010, quando a alteração no ECA passou a valer.
“Os acolhedores proporcionam um ambiente familiar, ainda que transitório, para as crianças”, argumenta o promotor. No momento, a situação contradiz a legislação, que dá preferência aos lares familiares em relação aos abrigos. Hoje, por conta do número reduzido de vagas nas famílias acolhedoras, a maioria das crianças é encaminhada aos abrigos. “A ideia é sempre ampliar o número de vagas, como será feito em 2015”, finaliza.
http://www.jcnet.com.br/…/familias-dao-um-lar-a-quem-nao-te…

Nenhum comentário: