quarta-feira, 8 de abril de 2015

O UMBIGO




O umbigo é a cicatriz resultante da queda fisiológica (natural) do cordão umbilical, e costuma manifestar-se como uma depressão na pele. A palavra umbigo tem sua origem no latim umbilīcus, diminutivo de umbo, com o sentido de saliência arredondada em uma superfície; foi escrita pela primeira vez em um documento oficial em 1563.[1]
Sobre o umbigo alguns pensadores escreveram:
O egoísta costuma viver em torno do próprio umbigo, quando cai, tonto pelo próprio egoísmo, sempre há alguém diferente dele para confortá-lo. Humberto Rocha
Você apenas conhece seu verdadeiro amigo; quando a água passa da altura do umbigo. Artur dos Santos Saldanha
Há pessoas que transformam o azul em cinza. Que só olham para o próprio umbigo. Que não são capazes de um gesto de gentileza. Que tem olhos de inveja. Que pensam que são muito melhores do que são. Que não dão valor ao trabalho. Que não tem uma palavra de elogio ao próximo. Há pessoas que vieram ao Mundo achando que são seu Centro. E por isso dão valor ao acessório, nunca ao principal! Jorge Rodini
O mundo não gira ao seu redor, então olhe outra coisa em sua volta sem ser o seu umbigo. Moyoko
Não parei para ver a fonte[2], afinal, não tem cunho científico o que passo a escrever nem será fonte de pesquisa para quem quer que seja. Resolvi escrever sobre o umbigo, o seu, o meu, o nosso, o umbigo do mundo.
Estamos em um absoluto momento de crise. A crise é política, econômica, moral, social, pessoal, crise dentro da crise, crise da crise.
Alguns olham apenas e tão somente para o próprio umbigo. Sinceramente não sei qual atração exerce essa pequena cicatriz, às vezes feia, no meio da barriga. Atualmente, em função do peso, quase não vejo o meu umbigo, mas, nunca tive atração por ele, mesmo nos auge dos meus saudosos 50 quilos.
Aqueles que são aficionados pelo próprio umbigo ficam incomodados por aqueles que veem alem do próprio, e, pior, tentam fazer algo que saia da acomodação da contemplação da pequena cicatriz.
O que pode ser melhor para os contempladores do próprio umbigo do que nada fazer? Se nada faz, nada incomoda, nada interfere, nada muda. Só não dá para entender a raiva nutrida por quem faz ou tenta fazer algo. Não fiz psicologia, não consigo analisar os aspectos freudianos, lacanianos, rogerianos ou outros tantos envolvidos na personalidade dos umbiguistas.

Tratando da questão pessoal: é chato falar de adoção? É chato tratar do Estatuto da Família? É chato ser militante, ativista? Simples! Não siga, não compartilhe, desfaça a tal amizade virtual.
O mundo é tão simples, por qual razão tanta discórdia, negativismo. Picardia?
Não é o número de amigos no Facebook ou de seguidores no Twitter que fazem o mundo real e sim o trabalho de cada dia, a labuta, a dedicação, a leitura, o estudo, os amigos reais com quem compartilhamos a vida fora do computador, do tablet, do celular.
As redes sociais são validas, e como são. Através das redes sociais podemos mudar o mundo, ou ao menor tentar mudar e ter a consciência de que tentamos.
Somos seres de carne e osso, também seres virtuais, vivendo em mundos que oscilam. Uns conseguem ser o que são em todos os planos, pois, no virtual somos todos iguais sem títulos, méritos, classes sociais. Somos login e senha e pronto.
Sou contra os que perseguem as amizades alheias, os que têm fixações específicas em pessoas, cargos e títulos. Entendo que as redes sociais servem para unir os que estão longe, divertir, servem também a causas sociais, a mudanças e movimentos políticos.
Nunca fui boa em ficar calada. Já fui mais ativista, confesso, até já escrevi sobre a fase de estudante onde escutava a Radio Tirana, falando diretamente da Albânia para o Brasil, com programas noticiosos sobre as forças guerrilheiras que lutavam contra os usurpadores do poder. Arrependimentos? Não tenho e espero nunca ter. Faria tudo de novo, picharia muros com palavras de ordem, compareceria ao DCE para bolar movimentos pela “constituinte livre, nacional e soberana”, literalmente não mudaria nada do que fiz.
Assim, continuarei a não olhar para o meu próprio umbigo, não me incomoda os que o fazem, que continuem umbiguistas de carteirinha, quanto a mim, continuarei a ser o que sou ativista, inconformada, enchendo a paciência dos que assim permitem e aceitam.
É sempre o eterno problema de não sabermos conviver com a verdade de que somos diferentes uns dos outros; e, por isso mesmo, solitários, mas nem por isso não solidários.
Aqueles que entendem que as diferenças entre as pessoas são maiores do que as que nos ensinaram a ver, desenvolvem uma atitude de real tolerância diante de pontos de vista variados a respeito de quase tudo e de quase todos. Somos todos diferentes, os que apenas olham e os que fazem, mas isso não nos torna melhor ou pior, apenas diferentes.
É preciso que deixemos de nos sentir pessoalmente ofendidos pelas diferenças de opinião e de atitudes, para que possamos enxergar o outro com objetividade, como um ser à parte, independente de nós, além do nosso próprio umbigo.
Quando nos colocamos no lugar do outro, quando assumimos o papel do outro, tentamos penetrar na alma impenetrável, na vida que não vivemos, nas dores que não sentimos, é a tentativa de compreensão entre os seres ditos humanos.
Então vamos combinar assim: você continua a olhar para o seu umbigo, criando em volta dele o seu mundo, eu continuarei a procurar mudar o que entendo errado, mesmo que não mude nunca. Continuarei a ser chata, mas nunca omissa.
Se o meu eu te incomoda, afaste-se dele, é tão fácil. Se a militância em prol de todas as famílias para você é ridícula, não lute, se a causa da adoção não lhe interessa ou não mais lhe interessa, não faça parte dessa luta. Estamos todos a um clique de “desfazer amizade”, “bloquear”, “deixar de seguir”, amizades em época em que o virtual suplanta o real esvaem-se em um clique.
Não tentem, umbiguistas, impor a todos o padrão egocêntrico e egoístico de ver o mundo.
A movimentação é coletivo, é o coletivo que luta por melhores leis, por leis justas para todos e não para um ou outro.
Continuarei a lutar #emdefesadetodasasfamilias e contra toda e qualquer forma de discriminação.
Não sou melhor nem pior, só não sei ficar parada enquanto ao meu redor atrocidades tendem a ser praticadas por omissão de quem deveria se movimentar.
Então, era esse o umbigo que precisava sair da minha garganta.
Silvana do Monte Moreira
Silvana.mm@globo.com


[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Umbigo
[2] http://pensador.uol.com.br/umbigo/

Um comentário:

Eliana Bayer disse...

Desabafo oportuno de quem faz o que é certo e não está pensando só no próprio umbigo. Vamos em frente. A causa é maior do que todos nós. Valeu, irmã.