quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Quando é hora de contar sobre a adoção para o filho (Reprodução)

10 de agosto de 2016

Por mais que pareça simples, para muitas famílias não é fácil falar abertamente sobre a história de um filho adotivo, principalmente quando é hora de contar a verdade para ele. O peito dos pais aperta por mil motivos: o medo da rejeição, a angústia de não querer que o filho sofra, além da dúvida em saber qual a melhor forma e o momento ideal de se dar a notícia.

Segundo a psicóloga Vânia Cristina, a adoção é um ato de amor extremo e, portanto, merece ser contada desde sempre. “A melhor forma é contar a história de forma leve e tranquila, como deve ser a adoção. Livros de histórias são uma boa alternativa; a abordagem tem que ser sempre leve, com muito carinho e cuidado”, afirma.

Estar preparado para a reação do filho não é um algo planejável, já que, segundo Vânia, é impossível prever como o outro irá reagir.

“No caso de adoções tardias ou de pais que contaram aos filhos que eles eram adotivos quando mais velhos, pode ser necessário um acompanhamento psicológico por conta da nova situação que foi apresentada, afinal, a adoção foi primeiro um processo de rejeição da família biológica, para depois virar um processo de amor”, observa a psicóloga.

Histórias infantis, grandes aliadas

Crianças entre 2 e 5 anos de idade são muito envolvidas com a questão lúdica, então as histórias infantis – sejam elas em livros ou desenhos e animações – instrumentalizam os pais e os auxiliam na inserção do assunto. Em Doutora Brinquedos, do Disney Jr., por exemplo, o tema faz parte da terceira temporada do programa, que está no ar.
Tudo começa quando os pais McStuffins con
tam para Doc e Dony que têm uma surpresa para eles: um novo membro da família está para chegar! Eles adotarão um bebê.

Na preparação para a adoção, os pais dão uma bonequinha para Doc, que a usa para "treinar" o papel de irmã mais velha antes da chegada do novo membro da família e passa a cuidar dela com muito carinho.

A chegada do novo membro à família será exibida em 5 episódios especiais a partir do dia 8 de agosto (de 2016).

Na vida real, muitos pais lançaram mão desse artifício lúdico para contar, aos poucos, que seus filhos são fruto de uma adoção. A produtora, Justina Inez Dalzotto de Castro Alves, 61 anos, de Porto Alegre (RS), desde sempre falou para sua filha Luana, hoje com 34 anos, que ela não havia vindo de sua barriga, mas sim de seu coração.

“Essa conversa sempre foi natural em nossa casa. Para ilustrar, eu costumava contar a história de uma gatinha que tinha sido mãe de cachorrinhos”, relembra Justina. Quando Luana passou a entender melhor, já tinha toda uma certeza de que pais e mães são aqueles que cuidam, educam, dão carinho e amor.

“Contar a verdade só trouxe vantagens – uma relação de confiança, aprendizado, respeito, admiração. Faríamos tudo igual novamente”, enfatiza a mãe, que acredita não haver um melhor momento para se fazer isso, mas que o importante é não omitir e conversar naturalmente sobre a adoção, tentar resolver dificuldades, dúvidas, dar segurança e bons exemplos ao filho.

Uma criança escolhida

A gerente de desenvolvimento de talentos Wilma Iuroski Dal Col, 56 anos, de São Paulo (SP), adotou Erick quando tinha apenas 5 dias de vida. Hoje, ele é um rapaz de 20 anos. Na época, Wilma e o marido Giulio criaram uma história bem particular para contar ao filho sobre a adoção, desde que ele era pequeno.

“Eu contava para ele que eu e o papai queríamos muito um filho, mas que eu tinha um dodói na barriga e não podia ter nenê e isso nos deixava muito tristes. Como nós queríamos muito um filho, um dia olhamos para o céu e vimos uma estrela muito bonita. Então perguntamos ao papai do céu que estrela era aquela e ele nos respondeu que se chamava Erick e que era muito especial. Falamos que queríamos demais aquela estrela, que precisávamos dela para sermos felizes, que ela era muito importante e que queríamos que ela viesse para ser nosso filho. Dissemos que o papai do céu pensou e disse que tinha uma solução: ele iria colocar a estrela na barriga de outra mamãe, que ia deixar o Erick crescer, virar um bebê e, quando ele nascesse, nos avisaria para ir buscá-lo”, reconta a mãe.
O objetivo da história que os pais sempre contaram ao Erick era de que ele tivesse a exata noção de que havia sido escolhido. “Nós queríamos que soubesse que ele não foi rejeitado, nem preterido; ele foi escolhido. Nós sempre procuramos passar essa mensagem para ele e chegamos à conclusão de que fazer isso desde bebê era fundamental”, enfatiza Wilma.

Quando os pais perceberam que Erick já possuía uma capacidade de entendimento maior do que significava a adoção, passaram a dizer que a mãe que o havia gerado o amava tanto que sabia que não poderia cuidar dele e, por conta disso, achou melhor que fosse criado por pais que pudessem assumir a responsabilidade. “Sempre falamos que o gesto dela foi um gesto de amor”, fala Wilma.

Na transição da infância para a adolescência, Erick pediu aos pais que não contassem para ninguém que era adotado. No entanto, Wilma e o Giulio fizeram questão de mostrar ao filho que o fato de ele ser adotado era algo bonito e que não deveria se envergonhar da história de vida.

“Nunca deixamos de dizer que era o filho que escolhemos e não que geramos e fizemos questão de mostrar essa beleza a ele. Com o tempo, isso se tranquilizou”, comenta. Já na adolescência, Erick pediu para conhecer a mãe biológica e os pais concordaram. “Disse que tinha os dados da mãe dele e que procuraria por ela, mas no meio da conversa ele desistiu e nunca mais tocou no assunto”, completa.

Wilma e o marido não veem nenhuma desvantagem em contar sobre a adoção, pelo contrário. “Eu acho que isso trouxe ganhos para a autoestima do Erick, apesar de todas as dificuldades dele por conta da paralisia cerebral”, diz a mãe.

Como ela lembra, os pais fazem questão de que o rapaz se sinta especial e único, “que foi uma pessoa escolhida e veio ao mundo para vencer”. “Acho que só existe desvantagem quando não se fala sobre a adoção. E também que não se deve esconder o que é bom e verdadeiro. E adotar uma criança é tudo de bom”, emociona-se a mãe.

Conte a verdade, sempre

Por mais que você tenha orgulho da sua decisão de amar a alguém, o medo pode bater na hora de falar para sua criança como ela entrou para a família. A dúvida sobre o melhor rumo da conversa ou a melhor hora sempre ronda. Para ajudar a acalmar o coração de quem se encontra nessa posição e a mostrar um caminho, a psicóloga Vânia Cristina dá algumas dicas valiosas:

1. Entre os pequenos, busque apoio na literatura, nos desenhos e até em filmes. Os episódios especiais de Doutora Brinquedos poderão ajudar, assim como os seguintes livros infantis:

- “Meu filho do coração: um livro para pais e filhos adotivos”, de Kevin Leman;
- “Manuela”, de Regina Renno;
- “A galinha choca”; de Mary França;
- “Nascer é assim também”, de Fabiana Nogueira Neves;
- “O abraço do Antônio”, de Luciana Rigueira Vicent;
- “Bebê do coração”, de Thelma Kracochansky Laufer;
- “Conta de novo - a história da noite em que eu nasci”, de Jamie Lee Curtis ;
- “O dia em que fiquei sabendo”, de Bel Linares;
- “Somos um do outro - um livro sobre adoção e as famílias”, de Todd Parr.

2. Os pais podem criar suas próprias histórias e contá-la aos poucos e esperar como o filho vai reagir, o que vai perguntar, qual curiosidade vai surgir.

3. Procure contar à criança desde pequena, mas se o tempo passou e isso não foi feito, calma! A adoção é um fato e isso não deve ser contado de forma atabalhoada. Vá abordando o assunto aos poucos, com muito carinho e cuidado. Com crianças mais velhas, com maior capacidade de compreensão, a conversa direta é um bom caminho.

4. Tenha uma postura e uma abordagem muito carinhosa deixando sempre claro que o processo de adoção é um ato de amor.

5. Se a criança quiser saber quem são os pais e a família tiver essa informação, isso deve ser dito a ela e deve ser dada a liberdade para que escolha se quer fazer contato.

6. Dica de ouro: o importante é que os adotantes compreendam que, por trás de uma adoção amorosa, houve um processo de rejeição, portanto, o que pode afetar a criança não é a adoção em si, mas o sentimento de abandono sofrido pelos pais biológicos. Estar preparado para acolher esse sentimento da criança é fundamental. Vale lembrar que essa sensação também pode não existir, mas é importante estar preparado para essa questão!

Original disponível em: http://disneybabble.uol.com.br/br/comportamento/quando-e-hora-de-contar-sobre-adocao-para-o-filho

Reproduzido por: Lucas H.

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