segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Famílias araraquarenses falam sobre adoção; conheça números da cidade e o processo (Reprodução)

18/9/2016

Para algumas famílias, o nascimento de uma criança é como um divisor de águas e traz muitas mudanças. O processo de gestação, o crescimento mês a mês da barriga. No entanto, para muitas outras, a chegada da peça que pode completar a felicidade do lar acontece de forma diferente.

Hoje, segundo o levantamento da Vara da Infância e Juventude de Araraquara, 84 registros esperam na fila para adotar uma criança na cidade. Ao todo, 14 crianças e adolescentes estão em condições de ganhar novas famílias.

Apesar do número de meninos e meninas ser menor que o de pessoas com intenção de adotar, isso não quer dizer que todas poderiam facilmente começar uma nova vida. O psicólogo judiciário que atua na Vara da Infância e Juventude de Araraquara, Fábio de Carvalho Mastroianni, explica que é preciso uma inscrição inicial, assim como a realização de um curso e outras avaliações.

“São analisadas as expectativas e as motivações dos candidatos, assim como as características e o perfil da criança e/ou adolescente que desejam adotar, além de orientações, esclarecimento de possíveis dúvidas ou ainda a indicação aos pretendentes da possibilidade e a importância de participarem de grupos de esclarecimento à adoção”, explicou.
(veja mais no infográfico abaixo)


Perfil
Na cidade, segundo a promotora Noemi Corrêa, da vara responsável, o “perfil” mais procurado por quem pretende adotar segue o padrão nacional da preferência por meninas brancas, de até 5 anos de idade, sem irmãos ou problemas de saúde.

Acompanhamento
Ainda de acordo com Fábio, o acompanhamento da família é realizado constantemente.

“Verificada a existência de condições de ambas as partes para iniciar o processo de aproximação é determinado o início do estágio de convivência, recebendo os adotantes um termo de guarda provisória. Durante este período são realizadas avaliações pelo qual serão indicados ou não a adequação da medida de adoção”, complementou.

Orfanato abriga crianças durante “impasse”

Atualmente, o orfanato Renascer abriga 21 crianças até 13 anos. Elas são atendidas após serem retiradas da família por motivos como agressões ou outros tipos de problemas, até que a situação se resolva com tratamentos psicológicos, por exemplo, e elas possam voltar ao convívio dos familiares ou tenham a guarda destituída por meio de decisão judicial. A partir daí, a criança entra na lista das que podem ser adotadas.

Ao todo, segundo o presidente do orfanato, Ricardo Caparelli, 25 funcionários trabalham no local e as despesas custam cerca de R$ 40 mil mensais, sendo R$ 6,3 mil vindos de um convênio. As chamadas “mães sociais” cuidam, cada uma, de três crianças.

“A gente acaba pegando amor a eles também. É como se fossem meus filhos. Torço para que sejam adotados por uma família bacana, mas confesso que sentirei saudades”, disse Maria Inês Alves Couto, de 21 anos, que realiza a função na instituição.

As alegrias de se adotar um filho

“Quando vimos uma foto dela, só de olhar para aquele doce sorriso, já sentimos algo diferente. Quando conhecemos a nossa amada e tão esperada filha, não tínhamos mais dúvida alguma: ela tinha nascido em outra família e, infelizmente, ficou longe de nós por 10 anos, mas agora era nossa, nosso bem mais precioso. Ela é especial, linda, educada e amorosa.”

O depoimento acima é de um pai de 42 anos, que junto de sua esposa, 34, adotaram uma menina de 10 anos. Como a filha ainda está se adaptando a nova rotina familiar e escolar, o casal pediu para preservarmos a sua identidade.

A história da adoção dela começou quando o casal, após sete anos tentando, não conseguiu engravidar. Depois de muita conversa, os pais resolveram ir até a Vara da Infância e da Juventude, fizeram um curso ministrado pelos profissionais da Justiça, foram aprovados e inscritos no Cadastro Nacional de Adoção.

A princípio, o casal pediu uma criança entre zero a cinco anos, mas como a fila é muito longa e o processo de adoção não é tão simples, a espera, sem êxito, acabou sendo de dois anos. Depois disso, ambos optaram por aumentar a idade e, assim, conseguiram.

O casal recomenda a adoção tardia, pois isso é um tabu. “Não só casais que querem adotar, mas crianças querem ser adotadas”, diz o pai, que conta: “após um mês em casa, foi nos dada a tutela provisória e ela logo começou a nos chamar de pai e mãe. As notas dela na escola melhoraram muito. Ninguém é capaz de explicar esse acontecimento: por incrível que pareça, ela se parece com minha esposa e tem o meu gênio.”

‘No dia em que vocês me adotaram foi quando eu nasci [...] é meu aniversário’

“No dia em que vocês me adotaram foi quando eu nasci dentro de uma família. Para mim, esse é o dia do meu aniversário”, diz a atriz Fernanda Gasparetto Silva, de 20 anos, aos seus pais adotivos: a enfermeira Rosângela Maria Gasparetto da Silva, de 52 anos, e o engenheiro Marcos da Silva, 55.

O casal, impossibilitado de ter um filho biológico, optou por adotar uma criança. “Nunca é uma decisão fácil de ser tomada e é um processo recheado de dúvidas”, lembra a mãe. Foram cinco anos se questionando se era mesmo aquilo que queriam até que Fernanda chegasse aos seus braços, com apenas três dias de vida.

“Fizemos inscrição e acabamos dizendo não nas primeiras oportunidades. A gente não estava preparado, mas com ela acabou dando certo”, conta a mãe. Amigos e familiares deram o apoio necessário e a adaptação foi boa. Foi contando uma história à filha que os pais revelaram que ela não havia saído da barriga da mãe.

“Vejo que hoje, com 20 anos, ela tem os mesmos valores e preocupações nossas, que também são as mesmas dos filhos dos nossos amigos na mesma idade”, garante Rosângela.

Nem sempre a adoção dá certo

O caso relatado acima foi um exemplo de adoção que rendeu bons frutos, mas isso nem sempre é rotina. Segundo a psicóloga Ana Helena Abritta, que atua há seis anos no Lar da Criança Renascer, em Araraquara, muitas vezes não ocorre a identificação e empatia da criança com o casal. Há casos, ela conta, que as crianças não conseguem se adaptar e voltam para o orfanato.

“A criança não chega aqui preparada para ser adotada. É preciso um trabalho conjunto para orientá-la, principalmente se ela já tiver mais idade”, explica a psicóloga. A preparação dos pais ocorre diretamente na Vara da Infância e Juventude.

Tanto os pais quanto a criança precisam ser preparados para enfrentar situações que podem ocorrer, como junto aos amigos da escola. Esse foi um dos motivos, inclusive, para os pais citados no texto ao lado optarem por não se expor.

Leia mais na edição da Tribuna deste domingo (18)

Original disponível em: http://www.acidadeon.com/araraquara/cotidiano/cidades/NOT,3,7,1197237,Familias+araraquarenses+falam+sobre+adocao+conheca+numeros+da+cidade+e+o+processo.aspx

Reproduzido por: Lucas H.




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