segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Apadrinhamento muda rotina de crianças e adolescentes em lares de adoção (Reprodução)

16/02/2017
Elisa* e Rafaela* sempre foram diferentes. A mais velha, Elisa, ama os livros, música e tem o sonho de se tornar uma grande advogada. Já a caçula, apesar de ser bem mais tímida, alimenta a vontade de estrelar lindos espetáculos como bailarina. Mesmo sendo tão diferentes, as irmãs compartilharam a triste realidade de não poder contar com o carinho dos pais em seu dia a dia.

As meninas perderam o pai logo cedo e passaram a viver com a mãe, que também não pôde criá-las, por ter problemas com bebidas alcoólicas. Ao completar 13 anos, Elisa se viu sozinha para cuidar da sua irmã pequena, que tinha apenas 5 anos. Na época, as responsáveis pelo abrigo Deus Proverá descobriram a história das crianças e tomaram a decisão de levá-las para o lar.

No abrigo, as irmãs cresceram e receberam assistência escolar, psicológica, momentos de lazer, assim como as demais crianças que faziam parte da instituição. Porém, Elisa e Rafaela sentiam falta do convívio familiar. Mas no fim de 2016, a vida das pequenas tomou um rumo diferente, quando os seus olhares cruzaram os do casal Ziraldo e Diliane.

Por meio da igreja que frequentam, o analista de sistemas Ziraldo Aurélio Cardoso de Oliveira, de 35 anos, e sua esposa Diliane Felipe Barros de Oliveira, bióloga, 34, conheceram o abrigo, localizado no bairro do Jacintinho, em Maceió.

Encantados com o trabalho do lar, os dois voltaram outras vezes para ajudar de alguma maneira as crianças que ali moravam. Durante as visitas, os tímidos olhares das irmãs Rafaela e Elisa sensibilizaram o casal. Assim começou a relação de apadrinhamento afetivo entre os quatro e uma grande transformação na vida de todos.

“A ideia de aumentar a família estava em nossos planos, por isso já éramos registrados no Cadastro Nacional de Adoção. Ao encontrarmos as meninas o desejo só aumentou, mas não tínhamos condição financeira de ficar com as duas. Ficamos sabendo do projeto pela internet, não pensamos duas vezes e voltamos no abrigo para apadrinhar as garotas”, conta Ziraldo.

Diliane acredita que o apadrinhamento afetivo é uma alternativa imediata para ajudar crianças e adolescentes a terem uma experiência familiar. “Não precisa ter dinheiro, grandes projetos, você precisa ter apenas um coração disposto. Elas não estão interessadas em casa, piscina, presentes, esperam apenas um carinho. Esta iniciativa da Justiça possibilita ao cidadão ofertar esse amor de forma mais rápida que a adoção, justamente por isso optamos por ela”, afirmou.

Mudança positiva no comportamento das crianças
A magistrada Fátima Pirauá, titular da 28ª Vara Cível da Infância e Juventude, que  coordena o projeto, destaca a importância da iniciativa para a reinserção de menores abandonadas no ambiente familiar. “Na maioria das vezes, eles não sabem o que é família, ou as lembranças que conservam é de abandono e sofrimento. Por meio do apadrinhamento afetivo, essas crianças começam a criar laços e se familiarizam com a rotina de uma família, muito diferente de um abrigo”, destacou.

Para dona Cicera Maria das Candeias, presidente da instituição Deus Proverá, a implantação do projeto provocou uma mudança positiva no comportamento das crianças. “Começamos a perceber outro comportamento nas meninas, antes elas eram agitadas, não queriam estudar, ou estavam sempre tristes. Depois que o apadrinhamento foi inserido na rotina do abrigo, essa situação mudou. Além de ajudar nos hábitos das garotas, o projeto abriu os lares de acolhimento para a sociedade” enfatizou.

Para Ziraldo os frutos do projeto poderão ser vistos em poucos anos na vida da criança. “Se a gente que ter uma sociedade melhor, mais justa, quer ter menos violência, vamos contribuir com quem precisa. Vamos trabalhar com o apadrinhamento como uma dessas oportunidades”, completou.

Projeto foi idealizado pela 28ª Vara Cível de Maceió
O projeto de apadrinhamento foi instituído em junho de 2016 pela 28ª Vara Cível de Maceió. Existem três modalidades de apadrinhamento previstas no projeto. A afetiva busca proporcionar um convívio mais direto. A criança ou adolescente passa a frequentar a casa dos seus padrinhos nos fins de semana e férias, para que tenha a noção do que é uma família.

Na financeira, a pessoa pode pagar um curso profissionalizante ou um tratamento médico para o apadrinhado, por exemplo. A última modalidade é a de prestador de serviço, na qual os  interessados disponibilizam seu trabalho voluntariamente para atender as necessidades das crianças.

Para padrinhar, é preciso preencher a ficha de inscrição disponível no site da Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude (Ceij), imprimi-la e levá-la até a 28ª Vara Cível, que funciona na rua Hélio Pradines, nº 600, na Ponta Verde.

Quem pretende oferecer apadrinhamento afetivo, deve levar atestado de idoneidade (junto com a cópia do RG da pessoa que atesta) e atestado de saúde física e mental (feito por psiquiatra ou clínico geral). A lista completa dos documentos pode ser vista aqui.

*Nomes fictícios, para preservar a identidade das menores

Fonte: Dicom TJ-AL


Reproduzido por: Lucas H.

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