segunda-feira, 23 de outubro de 2017

96% das crianças aptas para adoção na Bahia têm mais de cinco anos (Reprodução)

20/10/2017

A Bahia conta, atualmente, com 110 crianças disponíveis para adoção, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Deste total, 96% delas têm 5 anos ou mais.

Esta faixa de idade, no entanto, está longe de ser a opção mais recorrente entre os futuros adotantes. No estado, apenas 20% dos 1.049 pretendentes estão interessados em acolher crianças acima de 5 anos.

Tal cenário é considerado preocupante pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Por causa disso, o órgão promove, hoje, o TJ-BA Kids, iniciativa que vai proporcionar o encontro entre crianças a partir de 5 anos que vivem em casas de acolhimento e candidatos habilitados a adoção.

O evento vai acontecer na sede da Universidade Corporativa do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (Unicorp), no bairro do Monte Serrat (Cidade Baixa), a partir das 9h. A ação, coordenada pelo desembargador Emílio Salomão Resedá, tem como tema, este ano, "Não se esqueça de mim".

A intenção, de acordo com o desembargador, é apresentar as crianças para possíveis adotantes. "Trata-se de uma procura ativa. Vamos mostrar estas crianças para pessoas que estão interessadas em adotar mas que, muitas vezes, por desconhecimento, acabam focando em um só perfil de criança – as mais novas, na maioria das vezes", explicou.


Nem sempre adoção é romântica como um amor à primeira vista. A gente precisa se aproximar das crianças, conhecê-las e não apenas deixá-las nos conquistar, mas também conquistá-las
Patrícia Lustosa, 41, que adotou duas irmãs com o músico Fábio Garboggini, 43


A atividade, segundo Resedá, pode promover encontros que resultem em uma adoção, de fato. "Temos notícias de resultados positivos que se deram após esses eventos. Precisamos mostrar essas crianças à sociedade e não deixá-las à margem, nos abrigos, escondidas", disse.

A exposição dessas crianças, ainda de acordo com o desembargador, visa, sobretudo, fazer com que elas passem menos tempo abrigadas. "Muitas crianças passam a vida inteira em uma instituição de acolhimento e, aos 18 anos, enfrentam um grande drama: como vou enfrentar o mundo sem nenhuma referência familiar? Queremos reduzir esse tempo para que eles consigam ser incorporados às famílias o quanto antes", disse.

Experiência

Foi em um desses encontros que o casal Patrícia Lustosa, 41, e o músico Fábio Garboggini, 43, conheceram as filhas, há um ano. Os dois já haviam demonstrado interesse em adotar crianças mais velhas quando foram informados sobre as irmãs *Joana, 14, *Vanessa, 12, e *Carla, 11, que viviam, desde muito pequenas, em uma instituição de abrigamento da capital.

"Nem sempre adoção é romântica como um amor à primeira vista. A gente precisa se aproximar das crianças, conhecê-las e não apenas deixá-las nos conquistar, mas também conquistá-las. No início, ficamos inseguros. Será que vamos conseguir dar conta de três meninas?", questionou Patrícia, que é professora universitária.

Assim que decidiu entrar com o processo de adoção das irmãs, o casal foi informado de que outra família já havia demonstrado interesse pela mais velha delas, de 14 anos. "Resolvemos, então, seguir adiante e deu tudo certo. Hoje, as duas mantêm contato com a irmã mais velha", contou.

Há um ano, as duas irmãs ganharam uma nova família. Este período, segundo Patrícia, foi de descobertas e desafios. "A história de vida delas antes de ter uma família não será apagada. Agora estamos construindo uma nova história e, para isso, vamos pouco a pouco ressignificando valores. É gratificante vê-las felizes, sentir que estamos construindo algo juntos", disse.

*Nomes fictícios

Entidade apoia pretendentes


A preferência por perfis de crianças mais novas nos cadastros de adoção não é uma realidade apenas da Bahia, mas em todo o  país. 

No Brasil, o número de menores com mais de 5 anos abrigados em instituições é maior que a quantidade de pretendentes interessados em assumir a paternidade de crianças nesta faixa etária. 

No país, hoje, 8.138 crianças estão disponíveis para adoção, de acordo com o CNA. Desse total, 6.343 delas têm entre 5 e 17 anos, o que representa 77,94% do total de menores aptos.

Entre 41.373 pretendentes cadastrados no CNA, apenas 14.205 (cerca de 34%) estão dispostos a assumir a paternidade de crianças entre 5 e 17 anos.

De acordo com o presidente da Associação Bahiana de Estudo e Apoio à Adoção (Nascor), Vidal Campos Silva, tal preferência se dá, sobretudo, pela falta de informação. 

E ele fala com a experiência de quem viveu os dois lados: seu filho mais velho foi adotado aos 4 anos, enquanto a mais nova, com apenas um mês.

“Não podemos mudar o desejo de uma pessoa que sonha em adotar um bebê. A adoção deve partir de um desejo natural, devemos respeitá-lo. No entanto, sempre buscamos mostrar que existem, sim, outras possibilidades. O processo de adoção carece de estudo, conhecimento. A afinidade é o ponto-chave no momento da adoção. Está acima de qualquer plano”, disse.

Apoio

A instituição presidida por Vidal funciona há cinco anos e tem como objetivo reunir pais adotivos e pessoas que estão interessadas em adotar uma criança. A ideia da organização, segundo ele, é dividir experiências, tirar dúvidas e, sobretudo, criar uma rede de apoio entre os pais. 

A Nascor promove, a cada mês, encontros e palestras para esclarecer questões relacionadas a adoção. Amanhã, a associação vai receber dois psicólogos para conversar sobre crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade. 

O evento será realizado no departamento de engenharia da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), na Federação, às 14h, com entrada gratuita. 


Reproduzido por: Lucas H.

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